Pedro Pinheiro


A manhã começa alegre, viva e cheia de cor, um pouco campestre com os animais num furor! Bem, uns mais do que outros… Há exaltação dos cães ao verem o dono, estão felizes com o seu erguer pois sabem que é quem cuida deles e lhes dá de comer. Já os gatos estão ainda a acordar, alternam entre o mundo dos sonhos e o real, pois é difícil começar o dia de manhã. Seguem-se os habituais procedimentos, a comida é feita e servida, as crianças acordam e sorriem, comem e brincam, está tudo contente e sorridente! Não há a cor da névoa a pairar no ar, não existem incertezas quanto ao céu e na terra não há lugar para guerrilhar! São aspetos de prazer, de felicidade e de lazer, um mundo repleto de bondade sem nada de mal que possa acontecer. Após as cordialidades habituais, existem as práticas fenomenais da diversão, entretenimento com canção, brincadeira à discrição e bebida com moderação! O caos é obsoleto e a ordem a razão. Não existe malícia em nenhum coração. Há, no entanto, esta dúvida, uma questão intrusiva da opinião indecisiva de uma pequena criação… A incompleta assimilação deste paraíso que coloca a interrogação, "Como é que sabem que isto é real?". Foi esta frase que bastou para revirar os contemplares. As brincadeiras cessaram, as canções calaram-se e a bebida engasgou-se. Não fosse esta simples rapariga com a dúvida que desmoronou o ambiente perfeito que tinha sido até a esse ponto. A revolta, por estranho que pareça, não existiu, houve antes uma grande troca de olhares e muitos pensares. Porque é que ela disse aquilo? Como assim real? Quem é ela para questionar tudo dessa forma? Após breves momentos de silêncio e reflexão, todos acabaram por concluir que a rapariga tinha razão! Não havia forma de correção, pois essa mesma noção era de impossível obtenção para pessoas que nunca tinham pensado num dos infinitos detalhes da criação. Devido a isso, começaram-se discussões, houve exaltações e alguns empurrões. Um pouco mais tarde aconteceram brigas, abriram-se feridas e a paz que tinha sido mantida fora completamente esquecida. Era isto o óbvio castigo para todos aqueles que consigo tinham mantido algum ódio escondido. Foram para o purgatório onde o corrompido ser se voltaria a contorcer e a ser dominado pelas suas emoções até que o fim dos tempos viesse a acontecer. Não passava tudo de um sonho que se transformava num pesadelo. Um castigo severo para todos aqueles que no cerne do seu querer tinham a vingança daquilo que não puderam ter. Mas era lindo, um quase perfeito dia, repleto de felicidade e normalidade, apenas para ser arruinado pelo desejo incessante de querer sempre mais, sem olhar a custos ou à vida dos demais!

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