Inês Duque

Pé ante pé
Nesta edição irei escrever sobre a minha experiência como bailarina e a minha opinião sobre o que a dança proporciona. Já fez 6 anos desde que eu pratico dança e esses anos estão repletos de memórias e de trabalho. Partilhei estes 6 anos com pessoas incríveis, que nunca pensei vir a conhecer, e que me ajudaram a ser quem sou hoje.
Tudo começou no 5º ano de escolaridade, no qual me inscrevi no Orfeão de Leiria e desde então que permaneci neste conservatório. Conheci e tive como professores João Fernandes, Ângelo Neto, Carla Ribeiro, Alexandra Figueira, Joaquim Branco, entre outros. Com eles aprendi vários tipos de dança, sendo as principais: clássico, contemporâneo e música e as “secundárias”: jazz, caráter, composição coreográfica, improvisação, entre outras.
Tinha aulas de dança 5 a 6 dias por semana e acabava por ter um horário de 16 horas ou 18 horas numa semana.
À medida que os anos foram passando, comecei a amadurecer e a ganhar várias competências (quer físicas quer psicológicas). Ganhei uma noção de tempo inacreditável (hoje em dia dou bastante valor ao tempo), uma grande noção de responsabilidade, força, auto-estima, compaixão, ajuda, confiança, trabalho, esforço, liderança e autonomia, em suma, várias caraterísticas que são necessárias para vivermos em comunidade. Pelo facto de ter tido os professores que tive, posso dizer que me calhou a sorte grande, pois ganhei não só todas aquelas competências mas também ganhei um carinho enorme por pessoas e ganhei uma nova família!


COMPLEXOS CORPORAIS
Na minha opinião, a dança é uma espécie de terapia pois, apesar de ainda possuir alguns complexos, a maioria deles desapareceu e a dança ajuda imenso a combatê-los. E mais, ajuda também a mudar um pouco a perspetiva de alguns em relação ao mundo. Com efeito, acho que as pessoas que têm muitos complexos com o seu corpo deviam ter algo (por exemplo, a dança) para mostrar-lhes que elas são especiais e bonitas de qualquer maneira.

EXPRESSÃO DOS SENTIMENTOS
Alguns gostam de escrever, cantar ou tocar aquilo que lhes vai na mente; outros (como eu) preferem mostrar essas emoções a partir de movimentos. Assim, a partir da dança, conseguem exprimir os seus sentimentos, emoções ou até mesmo abstrair-se de todos os seus problemas, frustrações, ou seja do mundo exterior.
Com efeito, a dança torna-se num mundo imaginário pois consegues deixar de te preocupar com qualquer problema da tua vida. Naquele momento, és só tu que importas, nada mais, tu e o teu corpo a dançar ao sabor do vento!
O mesmo acontece num palco: apesar de ter de produzir a coreografia que estive a ensaiar durante um logo período de tempo, devo aproveitar cada momento em que estou a pisar o palco.
Um cenário de que me recordo imenso dos anos passados era que mesmo que a dança tivesse corrido mal, os nossos professores iriam sempre encorajar-nos a nunca desistir e a dar sempre tudo aquilo que temos, ao público.

O MELHOR DE SER BAILARINO
Para mim, o melhor de ser bailarina é olhar para aquilo que alcancei e mesmo que tenha sido pouco ficar orgulhosa e sorridente pois esforcei-me para aquilo acontecer; por isso, quando ouço as palmas no final de um espetáculo, fico grata por todo o desempenho e esforço de todos.
Ser bailarino implica não só ter muita força de vontade mas também ter algo ou alguém que nos consiga motivar. No meu caso, o que me motivou foram as pessoas que estavam ao meu redor, professores e a minha turma da dança.


O QUE MUDOU APÓS TER PRATICADO DANÇA? O QUE FEZ CRESCER ESTE CARINHO?
Obviamente, este carinho e afeto que temos uns pelos outros não se ganhou de um dia para o outro, só após várias “guerras”, discussões e desistências é que nos tornamos naquela turma infalível e invencível. Atrevo-me a nomear as pessoas desta turma que me alegraram todos os dias e que ainda o fazem: Bárbara Mendes, Beatriz Fernandes, Joana Couto, Lory Gaspar, Mafalda Sousa, Mariana Casimiro, Matilde Neves e Patrícia Leal.
Para mim ser bailarina tornou-me numa pessoa melhor quer para comigo como para os outros. Aumentou-me a confiança e a minha auto-estima, o meu prazer da vida. É claro que nunca estamos 100% satisfeitos na vida mas nestes anos tive a mais de 60% do meu tempo feliz e estou bastante grata a todas as pessoas que entraram na minha vida e que me ajudaram a ser quem eu sou hoje!
Infelizmente, muitas delas já não praticam dança por razões pessoais, sendo que apenas 3 de nós frequentamos o Orfeão.
Acho que deve-se sempre sentir grata/o por aquilo que temos e por aquilo que nos dão. A mim deram-me muito mais do que eu estava à espera, deram-me amizades que vão durar imenso tempo, deram-me memórias e saberes que nunca me irei esquecer e deram-me uma alegria imensa durante estes 6 anos desde que comecei esta pequena jornada.
Dizem que, quando morremos, durante alguns minutos tu consegues ver os melhores momentos/memórias da tua vida. Sendo assim, espero que algumas memórias destes 6 anos estejam incorporadas nesse momento.

 

Design by JoomlaSaver