Alda Angelina Pereira dos Santos

“Crianças e jovens ligados à corrente elétrica”: um problema com solução.

É frequente ouvirmos os professores dizerem “Este miúdo não para quieto. Parece ligado à corrente elétrica” ou “Faz as coisas [tarefas escolares] a despachar e depois fica no mundo da lua.” Comportamentos destes são, muitas vezes, coincidentes com um quadro de Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA). Trata-se de uma perturbação do sistema nervoso central com um quadro sintomático diversificado. A PHDA surge frequentemente associada a outros tipos de perturbação, existindo assim comorbilidades. São exemplo, a interação da PHDA com: comportamentos de oposição e desafio; perturbações emocionais, como sejam a ansiedade e a depressão; dificuldades específicas da aprendizagem, nomeadamente, dificuldades ao nível da leitura, cálculo e coordenação motora. A PHDA também se pode relacionar com perturbações de desenvolvimento como o autismo e a perturbação bipolar. Surge na infância e é caracterizada por significativas dificuldades em manter a atenção, impulsividade e hiperatividade. Em termos de prevalência, a PHDA ocorre aproximadamente em 3% a 7 % da população infantil, com maior incidência no sexo masculino, numa proporção de 3:1. Esta perturbação persiste ao longo da adolescência em 50% a 80% dos casos clinicamente diagnosticados na infância e até à idade adulta em 30% a 50% dos casos identificados. É fundamental que a PHDA seja entendida como um problema de saúde e não como falta de disciplina. O seu tratamento inclui o uso de medicação específica, assim como acompanhamento psicoterapêutico, tanto para a criança como para os familiares e professores que a acompanham. Esta psicoterapia torna-se fundamental para a criança ou jovem, na medida em que a/o vai ajudar a lidar com os diversos sintomas. A PHDA é tratável, sendo que 80 a 90 por cento dos casos são resolúveis. No entanto, existe ainda um grande estigma em relação ao tratamento farmacológico, provavelmente porque se trata de um psicostimulante. De acordo com alguns especialistas o metilfenidato (princípio ativo da medicação usada na PHDA) não causa qualquer dependência. Para que a adesão ao tratamento seja boa, é essencial explicar aos pais os efeitos secundários, como a perda de apetite ou a insónia. Tendo em conta o contexto profissional e o desafio que esta perturbação representa no contexto de sala de aulas, torna-se pertinente saber intervir nestes alunos, de forma adequada, com recurso a estratégias/práticas educativas. As crianças e jovens com PHDA podem apresentar comportamentos disruptivos na sala de aula, prestações abaixo das suas capacidades, dificuldades de aprendizagens específicas, dificuldades de relacionamento com os seus pares, devido ao défice de atenção e à impulsividade. Podem revelar pouca persistência e baixa motivação na realização das atividades devido à sua dificuldade em cumprir regras e ordens. Em função dessas situações, por norma, a criança ou jovem desenvolve uma baixa autoestima e um baixo autoconceito escolar. Para que os alunos com PHDA aperfeiçoem ou remedeiem as suas competências escolares básicas, aprendam a ler, escrever, fazer cálculos matemáticos e a gerir a sua aprendizagem, requerem, frequentemente, o recurso à instrução remediativa, apoios escolares suplementares, tutoria e acompanhamento psicológico, para que se possa ajudar o aluno a libertar o seu excesso de energia e a promover a sua autoestima. Mais do que fornecer-lhes tudo isto, paralelamente ao processo de ensino e aprendizagem dito normal, da parte de todos os professores e outros profissionais da escola – como é exemplo o professor de Educação Especial – há que introduzir diversas estratégias de prevenção e de intervenção, subordinadas aos seguintes princípios: promoção de ensino ativo e contínuo de normas e regras, relativas a comportamentos apropriados; distinção e fixação de níveis e contingências a essas normas e regras, adaptando as expectativas do pessoal da escola a eles; modificação dos currículos escolares e das normas de avaliação, de maneira a ir ao encontro dos seus problemas e a evitar frustrações e desmotivações, com o objetivo de melhorar os resultados e níveis de aprendizagem; monitorização e supervisão contínua da aprendizagem nas áreas de leitura, escrita e matemática, ou noutras áreas curriculares; fomentar a independência dos alunos, ensinando-os a organizar as matérias escolares e a adotar estratégias adequadas de estudo e de trabalho. Neste contexto, o professor deve modificar a sua forma de explanar saberes de modo a despertar a atenção da criança ou jovem e facilitar o processo de ensino e aprendizagem. O recurso a intervenções adaptadas e ajustadas a cada caso podem prevenir comportamentos inadaptados e remediar os já existentes. Assim sendo, deve-se intervir o mais precocemente possível de forma a minorar os efeitos negativos e estabelecer estratégias que permitam ajustar o comportamento das crianças e jovens aos objetivos do processo de ensino e aprendizagem, tentando promover o equilíbrio emocional e um melhor desempenho académico do aluno.

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