Os pontos e vírgulas da Educação Inclusiva|Alda Santos

Antes de falarmos de Síndrome de Tourette é importante falarmos de tiques. Tiques são movimentos ou sons involuntários, mas conscientes, breves, recorrentes, intermitentes, repetitivos e incontroláveis. Alguns exemplos de tiques são: piscar repetidamente os olhos, fazer caretas, mover a cabeça de um lado para o outro, tossir, fungar, limpar a garganta, cuspir, encolher os ombros, esticar os braços, estalar os dedos, bater palmas ou fazer outros movimentos com os braços e as mãos, repetir determinadas palavras, dizer palavrões, fazer gestos obscenos e gritar, gemer, assobiar, grunhir ou emitir sons, palavras ou frases fora do contexto. Apesar de involuntários, os tiques podem ser controlados temporariamente pela vontade, mas tendem a agravar em estados de ansiedade e cansaço. Em 1885, um neurologista francês chamado George Gilles de la Tourette, descreveu uma perturbação neuropsiquiátrica, caracterizada pela presença de tiques crónicos motores e vocais exuberantes, que viria a ser denominada de Síndrome de Tourette. Em todo o mundo, as perturbações mentais afetam milhões de pessoas. O início dos tiques acontece tipicamente em idades entre os 4 e os 6 anos e são comuns na infância e transitórios na maioria dos casos. O diagnóstico é clínico e realizado através da correta elaboração de história clínica, avaliação dos sintomas e quadro ao longo do tempo e observação pedopsiquiátrica da criança. A informação que os pais transmitem aos médicos é extremamente importante uma vez que as crianças na presença do médico podem controlar os tiques. Não são necessários exames de sangue ou outros métodos complementares de diagnóstico, exceto se suspeitas de outra doença. Os critérios que permitem que a criança seja corretamente diagnosticada são: a presença de tiques motores e/ou vocais; início dos tiques antes dos 18 anos de idade; duração dos tiques pelo menos durante um ano; período de agravamento e melhoria dos tiques ao longo do tempo; alteração do tipo de tiques com o tempo (num momento pisca os olhos e no ano seguinte tem movimentos de sacudida de ombros); a presença dos tiques não pode estar associada a outras doenças ou fármacos. A causa não está claramente definida, sendo a etiologia atualmente compreendida num modelo no qual prevalecem fatores biológicos (por exemplo: suscetibilidade genética, baixo peso à nascença) em interação com fatores ambientais. As mulheres podem experienciar mais frequentemente sintomas de ansiedade e depressão associadas a esta doença. Atendendo ao curso habitualmente crónico, ao impacto negativo no funcionamento e à elevada prevalência de co morbilidades, é fundamental um acompanhamento pedopsiquiátrico continuo e regular. À semelhança de outras perturbações de saúde mental na infância e adolescência, torna-se imprescindível a participação ativa da família e uma articulação próxima com a escola. O tratamento farmacológico deve ser reservado aos doentes cuja intensidade dos tiques seja suficientemente grande para causar um impacto negativo nas várias áreas de funcionamento. O tratamento neurocirúrgico apenas se aplica a casos selecionados de adultos que apresentem tiques graves e incapacitantes resistentes ao tratamento farmacológico. O método mais recomendado consiste na Estimulação Cerebral Profunda, que envolve a colocação de elétrodos em regiões profundas do cérebro de modo a que a estimulação elétrica possa lá chegar. A Síndrome de Tourette não tem cura, mas na maioria dos doentes verifica-se uma melhoria da doença a partir da adolescência. Após um pico de gravidade entre os 8 e os 12 anos, os sintomas tendem a diminuir de intensidade até por volta dos 20 anos. Pode verificar-se desaparecimento dos sintomas em aproximadamente 1/3 dos casos e apenas uma pequena percentagem terá sintomas persistentemente graves na idade adulta.

 

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