Gonçalo Ruivo


A memória permite que uma pessoa aceda a momentos do seu passado. Estas memórias podem ser momentos que recordamos por carinho, algo que nos mantém a sorrir. No entanto, certas memórias são repulsivas e iniciamos uma luta mental para tentar mantê-las no esquecimento, uma vez que nos puxam para o sofrimento.
Por um lado, a memória permite construir uma imagem idealizada do passado, mas nem sempre é o caso. No entanto, quando permite, executa a idealização do passado por desejo pessoal em função de eliminar as “partes más” de certas memórias, para que as mesmas não sejam repulsivas a um nível elevado. Tomemos como exemplo momentos memoráveis do tempo de infância. Estas memórias podem ser praticamente livres de fatores repulsivos, mas mesmo assim a memória “limpa-as” de modo a atingir a perfeição. É nestes momentos, especialmente na infância, que a memória engana o sujeito para que ele associe fatores presentes ao que, possivelmente, eram antes pequenas perfeições passadas.
No entanto, a memória demonstra ser incapaz de idealizar o passado. Certos momentos na vida de uma pessoa podem ser repulsivos de tal forma que a sua idealização passa a ser quase impossível. Embora o sujeito lute para se ver livre da escuridão da sua vida, é necessário aceitar que, para haver bondade, tem de haver maldade. Tomemos como exemplo momentos em que erros foram cometidos e tragédias ocorreram. Uma pessoa deve sofrer um pouco na vida de forma a aprender a lidar com o mundo que o rodeia. Se um erro foi cometido, o sujeito deve usar a memória para se lembrar de não o voltar a cometer. E para além dos erros, no caso de ocorrerem tragédias no passado, a memória não as pode idealizar totalmente, pois o sujeito ficaria perdido num sonho que está longe da realidade.
Em suma, a memória permite construir uma imagem idealizada do passado, no entanto, existem certos momentos passados que não devem ser vistos como realidade abstrata, de forma a permitir que o sujeito mentalize a existência da imperfeição. Deve existir um equilíbrio entre o bom e o mau.

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