Jéssica Duarte, 12ºF


Quando interpelamos alguém, sobretudo jovens que estudaram esta obra, a perceção geral que possuem sobre Fernando Pessoa ortónimo e heterónimo é, à primeira vista, de uma obra deveras descabida redigida por um poeta igualmente louco. No entanto, quando passamos por momentos na nossa vida que nos levam a colocar em causa uma quantidade ilimitada de visões, sentimentos nunca vividos até aí, esta poesia parece ganhar sentido. Posto isto, vou falar-vos da minha história e ligação a este poeta. Primeiramente, autorreflito sobre qual das personagens por ele criadas reflete melhor o meu “eu”. Será o guardador de rebanhos que se limita à concretude do que vê? Ou o epicurista-estoico que aceita a vida assegurada pelo Fado? Ou ainda o louco antissocial? Ou até o próprio criador fragmentado? Confesso que não é algo linear de concluir e passo a explicar porquê. Sempre fui um ser alegre, bem resolvida com o mundo, detentora de um gosto enorme para ajudar o próximo sempre que assim o conseguisse, mas, por vezes, para pudermos ser verdadeiramente felizes, devemos saber encontrar um equilíbrio entre nós e os que nos rodeiam. Foi através deste não equilíbrio, que ultimamente tenho potencializado que o meu “eu” se transformou radicalmente. Ver aos poucos uma rapariga que sempre conheceram de uma forma modificar-se a um nível inexplicável é algo difícil de lidar. Foi neste processo de contínua autotransformação que um dia dei por mim a comparar-me a Alberto Caeiro. Estava numa fase em que não queria pensar que estava mal para não me sentir ainda mais triste, então buscava limitar-me a viver a concretude sem viabilizar o que sinto para o meu pensamento. Senti-me o “guardador de rebanhos” que desejava voltar a deter a ingenuidade de uma simples criança que não reflete e não sente dor. Outrora, revi-me no excêntrico Álvaro de Campos, heterónimo que não se identifica com o padrão social imposto pela sociedade e parece não se importar minimamente que o chamem de “louco” pelos ideais que defende. Começo por referir que sempre fui uma pessoa que dava demasiada importância ao que os outros pensavam acerca de mim, mas com o passar do tempo apercebi-me de que devemos ser quem somos e valorizarmo-nos cada vez mais, independentemente de opiniões alheias, dado que só nós sabemos o esforço, dedicação, momentos que passámos para chegarmos onde nos encontramos e construirmos o indivíduo que somos no momento. Tenho também aprendido com diversas situações que cada instante pode ser o último, pelo que tenho adotado viver cada segundo como se assim o fosse experienciando novas atividades e alastrando os horizontes, tópico percetível na exaltação da vida moderna e na ânsia de vivência de novas sensações demonstrada por Campos. Em última comparação, a fase decadentista deste heterónimo assemelhou-se à fase inicial da minha transformação, quando me refugiava do mundo e entrava num estado de angústia profunda. No entanto, contrariamente a ele, evito adotar uma atitude cética, pois procuro cada vez mais, como forma de encontrar o tão desejado equilíbrio, gostar e saber lidar com a minha própria companhia e ter consciência de que isolar-me não é a solução para os meus problemas. Em suma, posso afirmar-me como um Álvaro de Campos, mas também com um pedaço de Alberto Caeiro. Assim, espero que a minha reflexão vos tenha feito perceber que Fernando Pessoa não é só um louco, mas um poeta com uma criatividade excecional e com pensamentos muitas vezes paralelos a uma realidade muito próxima a muitos.

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