Miguel Parreira, 12ºD


O universo de Fernando Pessoa é algo de outro mundo. É algo criado pela sua falta de saúde mental e no qual Fernando Pessoa cria várias personalidades diferentes, usando-as para abordar a vida e os problemas do mundo de diferentes perspetivas que são, porém, todas criadas na sua cabeça. Começo, então, por destacar quatro das personagens criadas por este génio da literatura portuguesa, com as quais me irei identificar. Primeiramente, o “louco antissocial”, Álvaro de Campos, também conhecido como o poeta da modernidade, é um poeta cuja poesia presenciou três fases bastante diferentes e que, por isso, pode ser caracterizado por apresentar uma leve bipolaridade. Inicialmente, tendo escrito um poema ligado a ideias decadentistas (desinteresse perante a vida que leva), abandona rapidamente esta fase e passa a escrever com uma grande influência futurista. Nesta fase, abandona o desinteresse que tinha pela vida e começa a escrever impulsionado e motivado pela revolução industrial que se estava a acontecer na época. Nos seus poemas desenvolve uma teoria estética, usa o imaginário épico para o enriquecimento dos seus textos e acaba por ter uma poesia sensacionista. Por fim, na sua última fase literária, Álvaro de Campos abandona o ambiente marcado pela apologia do excesso e acaba por, de certa forma, voltar a ideias negativas (tal como na primeira fase), adotando uma atitude de atonia que resulta do seu ceticismo profundo. Ele começa a sentir uma enorme nostalgia em relação à infância, época em que se considerava feliz devido à sua inconsciência. Apesar das suas ideias futuristas, não me consigo identificar com Álvaro de Campos. Este autor é, para mim, demasiado inconstante, facto verificado nas suas três diferentes fases literárias e, além disso, mostra-se demasiado depressivo e pouco racional, traços que não me imagino ter. Agora, passando para outra das suas “vozes”, o “epicurista estoico” Ricardo Reis é, segundo Fernando Pessoa, o mais inteligente de todos os heterónimos, sendo até mais inteligente do que o próprio Fernando Pessoa. Além da sua inteligência, Ricardo Reis também é caracterizado por ter uma formação clássica, acreditar profundamente no destino e por ter adotado uma visão pagã do mundo. Agora em relação à sua escrita, Ricardo Reis escreve num tom sereno que se harmoniza com a ideia de “carpe diem”. Também é muito influenciado por ideias da mitologia grega e os seus poemas contêm imensas referências ao epicurismo e ao estoicismo que são as suas filosofias de vida. Em relação a Ricardo Reis, consigo entender a sua maneira de pensar e acho que o mesmo tem uma interessante forma de viver a vida, mas a mesma é completamente diferente da maneira como vivo, começando pelo facto de o mesmo acreditar no destino e levar a sua vida a cabo, tendo esta ideia como guia. Apesar de entender quem pensa assim, eu não acredito no destino e acho que as nossas decisões afetam como vai ser o nosso futuro. Além disso, Ricardo Reis decide viver a vida com prazeres moderados para diminuir o seu sofrimento e também esta ideia é precisamente oposta áquela que levo no dia a dia para tomar as minhas decisões, ou seja, prefiro arriscar mesmo que depois possa vir a sofrer mais por causa disso. O “hiper-racional fragmentado”, Fernando Pessoa, o grande criador de todos os personagens sobre os quais falei até agora, era caracterizado por ser muitíssimo racional e por se sentir “múltiplo” (por isso criou todos os heterónimos). Fernando Pessoa aborda várias temáticas nos seus poemas, desde o fingimento artístico à nostalgia da infância, sem conseguir sentir-se satisfeito consigo mesmo. Por não conseguir atingir os seus objetivos, decidiu criar os heterónimos para se sentir concretizado, objetivo que não conseguiu atingir. Tal como os heterónimos anteriores, também com Fernando Pessoa não me consigo identificar, pois o mesmo vive uma vida com a qual nunca está satisfeito e acaba por desistir sempre dos seus objetivos. Ele vive perante uma necessidade insaciável de escrever e eu não sou nada assim. Por fim, vou falar sobre Alberto Caeiro, o “guardador de rebanhos inexistentes”, o heterónimo com o qual me identifico mais facilmente, conhecido como o mestre dos heterónimos. Alberto Caeiro vive através dos sentimentos e é assim que perceciona o mundo. É o poeta do real e do objetivo, que ama a natureza e que afirma recusar o pensamento e a filosofia, pois considera que só o presente existe e deve ser vivido. Em relação à sua poesia, esta é escrita de maneira simples sem muito rigor literário e a mesma aborda as suas ideias de vida, sendo que é dada uma grande importância à natureza. Alberto Caeiro de todos os heterónimos é, sem dúvida, aquele com quem me identifico mais. Desde a sua ideia de que temos que viver no presente, assunto de que já tinha falado e dado a minha opinião quando falei sobre Ricardo Reis, até ao facto de o mesmo recusar o pensamento, pois, apesar de eu gostar de ser bastante racional, às vezes considero que os pensamentos são levados a um nível demasiado extremo por causa das questões filosóficas que acabam por ser, de certa forma, inúteis na maioria das vezes. Concluindo, o mundo da heteronímia criado por Fernando Pessoa é, sem dúvida, algo belo e vasto e, no meio deste extensíssimo mundo, toda a gente consegue encontrar alguém com a mesma linha de pensamento do que a sua. No meu caso, Alberto Caeiro é o heterónimo que mais me fascina e se assemelha a mim.

 

 

 

 

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