À beira do colapso! | Inês Ruivo


À medida que vou crescendo, reconheço a falta de ser criança. Lembro-me da minha irmã mais velha dizer, já na sua adolescência e na plena consciência dos desafios da vida adulta que de si se aproximava que, quando crescesse, queria ser um “bebé”. Como é claro esta exclamação de uma adolescente, para a minha família de adultos exaustos, foi alvo de muitas gargalhadas. Já eu, sendo a “caçula” da família, tomei aquela resposta fortemente no meu coração de criança, que escuta atentamente o que vem da boca da irmã mais velha como o seu modelo a seguir. Toda aquela conversa cheirava mal. Mas porque é que ela disse isso? Afinal está sempre a lembrar-me do quão criança sou e de que ela já é crescida! Será que está a fazer troça de mim? – pensei, em silêncio, para mim mesma. A realidade é que não entendia porque também queria crescer e ser uma “mulherzinha”. Mal sabia eu que o tempo voaria e, como num piscar de olhos, de repente cá estaria, anos depois, na corda-bamba entre os fossos da infantilidade e da estereotipada “idade adulta”. Hoje defino-me como um ser perdido na imensidão dos seus pensamentos; um alguém preso, amarrado ao passado, com medo de largar a linha ténue que sustem a nostalgia da sua infância feliz. Admito. É verdade. Tenho medo de crescer. Medo de me perder e de não restar em mim a criança destemida, alegre e aventureira que outrora fui. Deparo-me, muitas vezes, com os registos dos episódios da minha existência: estou presa no dualismo de “querer sair da caixa” e de, ao mesmo tempo não querer sair da zona de conforto que demorei anos a criar, esse lugar seguro, esse refúgio a que chamo LAR. A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, terei de parar de recear o que o desconhecido futuro tem para mim; terei de parar de viver meramente nos meus sonhos e transferir esse imaginário para a realidade, pois só assim testemunharei a experiência total do que é ser feliz. Talvez permanecer um “bebé” seja reconfortante por um tempo, porém não tenciono fazer disso vida. Afinal são as aventuras inesperadas a que nos propomos que constituem os momentos que relembraremos para a eternidade.

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