Patrícia Moleiro, 11ºC


O elástico é algo que, sem nos darmos conta, está presente regularmente no nosso quotidiano. Quando pensamos em elásticos, associamos a palavra aos elásticos para atarem o cabelo, para servirem de fita, para fortalecerem os músculos, para o aparelho, para prenderem os livros e para outras infinitas utilidades que um elástico pode ter. Há uns anos, andava bastante transtornada por vários motivos. Não entendia o motivo de algumas atitudes para comigo, por parte daqueles que amava, não conseguia de maneira nenhuma perceber como é que era possível esses mesmos indivíduos não se aperceberem do dano ou dor que me causavam. Um dia, partilhei com o meu avô a situação, visto que não conseguia arranjar maneira de lidar com o assunto. O meu avô foi buscar um elástico ao armário da minha avó. Pegou no elástico, prendeu-o no meu dedo e de seguida prendeu-o no dele. Mandou-me puxar o elástico para que se esticasse e logo depois, mandou-me tirar o dedo, eu tirei e ele perguntou-me: “Doeu-te?” e eu respondi: “Não”. Ele mandou-me pôr lá o dedo outra vez, eu pus, ele tirou o dedo e voltou-me a perguntar: “Doeu-te?”, eu respondi-lhe que sim e perguntei-lhe em que é que aquilo me ajudava. O meu avô riu-se e respondeu-me: “Isto funciona mais ou menos como as relações sociais. Cada pessoa suporta uma parte dessa relação; se deixa de o fazer, ou se tem alguma atitude que te magoou, então é possível que essa pessoa talvez nem se aperceba da dor que te causou, porque não foi ela que a sentiu da forma que tu a sentiste. Provavelmente, só se vai aperceber da tua dor se algum dia alguém lhe provocar dor semelhante à que te provocou. De outra forma, nunca a sentirá, pois cada coração é único e todos são diferentes uns dos outros.” E foi nesse mesmo dia que eu nunca mais olhei para um elástico da mesma forma que antes, dado que me tinha apercebido que um simples elástico, de certa forma, até conseguia explicar a complexidade das relações humanas. Relações estas onde, muitas das vezes, fazemos algo aos outros que os magoa, sem nos lembrarmos que hoje somos nós a “largar o elástico” mas amanhã podem ser os outros a fazê-lo. Relações estas onde, muitas das vezes, não compreendemos o porquê da mágoa ou dor do outro, mas quando um dia somos colocados no mesmo lugar e sentimos exatamente o mesmo que ele, apercebemo-nos que, por vezes, não temos a mínima noção das nossas falhas e de como estas podem influenciar os sentimentos das pessoas ao nosso redor. E isso acaba por nos doer também, porque podíamos não ter a intenção de provocar aquela sensação ao outro e então, a dor dele volta para nós, através da força do elástico que largámos. Somos até hipócritas, por criticar as reações do outro e, no dia a seguir, termos a mesma reação ou até pior. Mais tarde, sendo também ativa nestes erros naturalmente humanos, dei-me conta de que “largar o elástico”, ter determinada atitude ou até deixar de suportar a nossa parte de uma relação, seja ela qual for, também dói. Às vezes, até nos dói mais a nós que à pessoa que levou com a força da nossa atitude ou decisão. Há elásticos que rebentam a certa altura de tanto serem esticados e optamos, então, por sermos nós a largar um lado do elástico, para que o rebentamento do mesmo não destrua tudo, o nosso lado e o do outro, optamos por largá-lo para que ainda reste alguma coisa, boa ou má. Afinal, é impressionante as milhentas perspetivas diferentes que podemos retirar de um elástico que estica, aguenta, encolhe, mas também rebenta. É incrível a forma como um objeto pode representar, metaforicamente, a dificuldade do ser humano, das suas emoções e do seu funcionamento.

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