Francisca Polido, 11ºC


Num domingo à noite, Andreia deu consigo a pensar que no dia seguinte era altura de começar uma nova etapa da sua vida, o secundário. Andreia era uma rapariga morena, de olhos verdes, cabelo comprido cor de cenoura e extremamente alta; tinha uma família muito prendada nas artes da costura. A sua avó e a sua mãe ensinavam-na a costurar e costuravam muitas das coisas que usavam, nomeadamente elásticos para os longos cabelos que tinham. Era altura de começarem as aulas. Andreia nunca gostava desse dia, pois sentia que, por todas as escolas por onde já tinha passado, não era bem vista pelos seus colegas, devido a usar óculos e a ser demasiado alta para a sua idade. Esta rapariga não confiava nela própria, desvalorizava-se, não percebia o quão avisada e amiga era dos seus colegas. Todos os anos tinha a sensação de ser gozada pelos seus colegas, não só pelos óculos que usava, mas também porque pensava que todos a chamavam de “nerd”. Assim, autoexcluía-se do grupo de amigos, ficando sempre sozinha num canto da escola. Tinha ainda outro estigma: gostava muito de usar elásticos que fazia, à mão, muitas as vezes, nas suas longas horas de almoço na escola, entendendo que esse era mais um motivo para os colegas a colocarem de parte. Nesse ano em que iniciou o secundário, descobriu que muitos dos colegas de turma eram os que sempre a acompanharam no seu percurso escolar, exceto uma rapariga, a Marta. Farta de pensar que era excluída pelos seus amigos, Andreia decidiu mudar o seu visual, vestindo roupas extravagantes, que não combinavam nada com a sua personalidade, mas, achava ela, que era a única maneira de ser notada. Vários dias se passaram e, pese embora a mudança de visual que tinha imposta a si mesma, uma coisa não mudou em Andreia: o uso dos seus elásticos. Ao longo dos dias, Marta, a única que nunca tinha estado na mesma turma de Andreia, queria ir falar com ela, pois algo prendia diariamente o seu olhar: os belíssimos elásticos que Andreia sempre usava. Após ganhar coragem para ir falar com Andreia, Marta, aproveitou a hora de almoço quando viu a rapariga sozinha e foi apresentar-se, tendo perguntado:
- Onde compras os teus elásticos? Tenho reparado e todos os dias são diferentes e muito originais.
- Eu não compro os elásticos, sou eu que os faço. - disse Andreia. Marta ficou impressionada e decidiu ir divulgar a todos os colegas que os elásticos que Andreia usava eram feitos por ela. Os elásticos feitos pela Andreia eram o motivo perfeito para as conversas diárias com a Marta, verificando-se uma situação muito curiosa: todos os dias se juntavam vários amigos e amigas a essa conversa, pois esse passou a ser um dos assuntos favoritos em toda a escola. Alguns dias se passaram até que, mais à-vontade uma com a outra, Marta decidiu dizer a Andreia que a personalidade da amiga não se refletia nas suas roupas extravagantes, mas sim na combinação perfeita com os seus elásticos. Marta tentava fazer com que Andreia percebesse que ela era reconhecida e todos adoravam o jeito que tinha para fazer os elásticos. Andreia pensou no que deveria responder e chegou à conclusão que não era necessário algo muito elaborado, tendo percebido, finalmente, que as roupas extravagantes não eram necessárias para ser notada. Ela sempre era notada pelos seus elásticos, mas nunca teria percebido isso…todas as pessoas reconheciam o talento que ela tinha para a costura de elásticos. Andreia, com a ajuda de Marta, percebeu o quão notada e importante era para os colegas e voltou a ser uma rapariga simples e alegre, sem vestir roupas extravagantes, mas sempre a usar os seus elásticos. A partir deste dia, Andreia começou a entrar no grupo de amigos, pois já entendera que todos reconheciam o seu valor e que, afinal, não era rejeitada pelos seus pares. Começou a costurar elásticos para todas as suas colegas e para aqueles que queriam oferecer um a alguém, como prenda. A vida de Andreia mudou por um simples acessório, o elástico, pois com ele conseguiu perceber o quão importante era para os seus amigos, tendo feito com que ganhasse mais confiança em si mesma a partir daí.

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