Andreia Senhorinho, 11ºD


“A Violência de Um Pai é Sempre Amor” (in, Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco)
NÃO. O “não” tem três letras, as mesmas que o “sim”. O “não” transmite um sentimento, uma revolta, uma contrariedade. O “não” é a base daquilo que nos permite manter a dignidade nos momentos em que os nossos princípios são postos à prova. É aquilo que nos permite distanciarmo-nos daqueles que nos conduzem para os maus caminhos ou para zonas que são do nosso perfeito desconforto. O tema das nossas composições é “A violência de um pai é sempre amor” e, quanto a isso, só tenho que dizer “NÃO”. A violência é o estado mais primitivo dos relacionamentos humanos, é o retrocesso de uma evolução que durou séculos e manifestações contrárias ao costume a conquistar. Todos nós já presenciámos situações, ou mesmo vivemos situações, em que os nossos pais nos levantaram a mão. Algo que não é raro na adolescência. Fora os fundamentalismos, é algo que até pode ser considerado necessário. Nunca nenhuma criança ficou traumatizada por, num momento menos feliz da sua infância, ter levado uma “bofetada”, nem por ter levado o comum “tabefe”, perante um total desrespeito aos pais. Contudo, saibamos dizer “NÃO” ao momento em que passa de um ato pedagógico para um abuso de autoridade, um abuso de poder que se manifesta como sanção física. É normal ouvirmos as nossas avós falarem das reguadas que levaram na escola, das vezes em que, desnecessariamente, os pais lhes tocaram de uma forma mais física. Do meu ponto de vista, nada de mais adverso pode existir na essência humana, nada de mais adverso pode haver no que toca às relações humanas, principalmente quando falamos de relações parentais. E a evolução parte daí: quando aqueles que foram vítimas de um costume arcaico se tornaram os primeiros a dizer “Não” à sua continuidade. “Teresa”, de Amor de perdição, foi só mais uma, por sorte inventada, que sofreu nas mãos daquele que tinha como função protegê-la. Se o que levou o pai a agir daquela forma é justicável? Não, não é. E retomamos a questão do “não”: no momento em que um pai se torna abusador, em que a violência que transmite a uma filha é justificada como sendo amor, então chegamos ao momento de todos dizerem NÃO. Porque o pai tem que saber dizer “não” aos impulsos que o movem, porque a filha tem que saber dizer que não é amor, porque a mãe tem que saber dizer que não compactua com tais atitudes, visto que o silêncio perante a violência é um sim disfarçado. Para além das referências feitas a uma violência manifestada como física, temos de saber reconhecer outros tipos de violência que passam discretos. A violência não se trata só de uma agressão, nem tudo o que é violento é físico e nem tudo o que é físico é violento. Mais do que nunca, nos dias de hoje, deparamo-nos com questões que nunca pensámos ter de nos confrontar: controlos excessivos, frases acutilantes, exploração da boa vontade do outro. Tudo isto se pode manifestar como violência e saber dizer “NÃO” é essencial. Não é amor o pai saber o que a filha faz nas suas costas; não é amor um pai controlar as redes sociais, o telemóvel e as contas da filha; não é amor deixar um olho negro e dizer que é para o bem dela, porque só assim ela aprende. O que separa os humanos dos animais é a capacidade de raciocínio para além das captações diretas de realidade. O processar daquilo que nos rodeia e daí tirar o conteúdo moral e axiológico, é uma ferramenta que não assiste a mais nenhum ser vivo. Assim, de forma sucinta, só gostava de acrescentar que em caso alguma violência pode ser justificada com amor. O amor é aquilo que de todo afasta a violência. É o mais puro e verdadeiro sentimento que podemos nutrir por alguém, ainda que por muitos definido como uma patologia mental, com os limites a contornar o que de mais perigoso pode haver. Saber dizer NÃO às manifestações descontroladas de sentimentos rotulados como derivações do amor é crucial. Só assim, podemos dar-nos como evoluídos, como seres pensantes, como seres que sabem distinguir o ténue do rígido. Só com a total exclusão da violência, podemos saber e atingir o que de verdadeiro há no amor.

 

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