Andreia Senhorinho, 11ºD


Nos dias de hoje ouvimos falar de máscaras diariamente: põe a máscara, tira a máscara, troca a máscara, compra uma máscara, esqueci-me da máscara (…) levando-nos a generalizar o uso da palavra no seu sentido mais literal. A par com o uso quotidiano da palavra em si, podemos também refletir sobre o significado da mesma, que nem sempre é o mesmo. Definimos máscara como algo que nos protege, tapa ou esconde algo. Recuando até 1909 podemos encontrar uma das obras que mais imortalizou o uso de uma máscara: o Fantasma da Ópera. Dotado de excecionais talentos, mas inseguro da sua aparência física, este cobria a metade do seu rosto, que havia ficado transfigurada, com uma máscara branca, mundialmente reconhecida pelos amantes de literatura ou óperas. Refletindo sobre a atitude do Fantasma e tentando entrar em comparação com outros sujeitos, que também se escondiam por detrás de algo, entramos num infinito mundo de ocultações e camuflagens de caraterísticas físicas e não físicas, que muitos esconderam durante dias, semanas, meses ou anos. Mas, como podemos fazer esta comparação sem fugir ao tema inicial, as máscaras? A resposta é simples: perante as adversidades que a vida nos coloca e a sensibilidade de cada um aos imprevistos e dificuldades, a máscara é um utensilio que permite um escape aos mesmos. Hoje usamos diariamente máscaras para não ficarmos infetados por um vírus. Há anos usaram-se máscaras para nos escondermos de outro. Nos hospitais os médicos usam-nas durante as cirurgias. Porém, há situações que requerem, por parte de quem a elas recorre, a utilização de máscaras não físicas, máscaras que não se veem, mas que podem magoar mais do que aquelas que usamos hoje - as máscaras sociais. Foram estas que permitiram a mulheres realizarem abortos, sem serem crucificadas em praça pública pelas mentalidades retrógradas, que entendiam o ato como moralmente incorreto. Houve, também, homens que usaram as suas famílias, por eles amadas, como máscara que escondia o facto de, no fundo, serem homossexuais, facto que jamais seria aceite pelos que os rodeavam. Até aqui falei sobre as utilizações positivas, dependendo do ponto de vista de cada um, que podemos dar ao objeto mencionado. Mas seria restritivo não abranger também o lado negativo do uso das máscaras. Como sabemos, a atualidade é caraterizada pela globalização. No mundo das vantagens trazidas pela mesma, muitas vezes não nos lembramos dos riscos que vêm desta nova realidade. Todos os dias, a maior parte da nossa geração entra nas redes sociais. Nestas, colocamos fotos de momentos especiais, vídeos que queremos recordar mais tarde. Não é difícil encontrar gente feliz, gente bonita, gente alegre e contente nos seus mundos, quer no Instagram ou no Twitter. Até que ponto podemos acreditar na realidade que ali é demonstrada? Até que ponto aquilo que é transmitido, de facto, corresponde à realidade? A maior parte de nós já fez amigos online: conhecemos alguém porque ‘’seguimos’’ essa pessoa numa rede social e iniciamos um diálogo. As conversas que começam com um ‘’Olá, onde vives?’’ passam para um ‘’Então, como foi o teu dia?’’. Aquele que nos era um estranho, do nada passa a ser um amigo, levando-nos a trocar opiniões e ideias sobre tudo e mais alguma coisa. A questão é que, por vezes, dessas situações não vem nada de bom. Por muito que achemos que conhecemos alguém que está atrás de um ecrã, por muitas horas que fiquemos a falar com alguém que conhecemos através de uma rede social, mas que nunca marcou presença no nosso quotidiano, essa pessoa tem filtros. E não são filtros que coloca só nas fotos para parecer mais atraente, não são filtros que coloca nos vídeos para parecer que o sítio onde passou o pôr do sol ontem era mais bonito do que parecia: são filtros de conteúdo invisíveis. Por muito que a ilusão nos leve a achar que esse alguém é, de facto, uma realidade, todos nós usamos online máscaras para nos protegermos. Como diz o ditado, por vezes a melhor defesa é o ataque e daí resultam as histórias que ouvimos todos os dias sobre burlões online, casos de catfish e realidades que inicialmente pareciam perfeitas a transformarem-se em plenos infernos, só porque, inocentemente, alguém se esqueceu que a maior máscara nem sempre é a mais visível. Em suma, não é fácil definir máscaras. Assim como não é fácil quantificar quantos tipos de máscaras há ou para que finalidades servem. Aquela que usamos hoje poderá ser insuficiente amanhã. Ao nosso redor houve, há e haverá sempre utilizadores de múltiplos tipos de máscaras, visíveis ou não, que, de certa forma, por detrás da mesma, sentem um tipo de proteção que não encontrariam na sua exposição total ao mundo terráqueo.

Design by JoomlaSaver