Débora Francisco | Opinião

Na gravura apresentada, observam-se escravos a cortar a cana, vítimas de uma infalível luz solar, enquanto o seu senhor descansa à sombra, em cima de um cavalo. Esta imagem pode ser vista como uma doce representação da realidade amarga que foi a escravatura, por causa do contraste que as cores alegres fazem com o sofrimento das vidas capturadas.
Embora os escravos estejam vestidos com roupas, cujos tecidos aparentam ser belos e de qualidade razoável, estes continuam a ser cativos, a viver uma vida cruel em que a liberdade, um direito humano imprescindível, lhes foi retirado por outrem. Este facto é arrepiante, visto que em tempos isto fora algo parte do quotidiano.
Por outro lado, o colono é representado de uma maneira dócil, completamente oposta aos conhecimentos atuais existentes sobre estes donos sem escrúpulos. Isto vem reforçar a ideia de que a pintura suaviza a imagem que representa, levando o visualizador a questionar-se se os trabalhadores serão de facto escravos. No entanto, existe sempre um positivismo associado a este tipo de demonstrações artísticas: por mais crua e fria que seja a mensagem por trás das rigorosas pinceladas, há sempre que apreciar o resultado final- a obra de arte em si.
Em suma, há que admitir que tempos negros deste caráter existiram, pelo que representações visuais serão sempre importantes documentos históricos. Para além da possível incerteza causada no consumidor previamente mencionada, é necessário e extremamente notável de reparar que tal obra nunca se iria terminar sozinha, ou seja, deve-se apreciar também o artista escondido atrás desta magnífica tela.

 

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