Beatriz Menino/David Carreira


UMA GAIOLA A CAIR PARA O DESASTRE (?)

Promovida pelos professores de Matemática e Biologia, decorreu no 12 de abril, no auditório da Esc. Sec. Eng. Acácio Calazans Duarte, uma palestra que teve como tema a floresta portuguesa e os incêndios. Destinada às turmas do 10º ano de Ciências e Tecnologias que estão a desenvolver um projeto interdisciplinar sobre o Pinhal do Rei, esta foi uma sessão que teve como voz o Professor Doutor Jorge Paiva. Desde logo, este botânico, dotado de um currículo invejável e de uma longa carreira, não só suscitou em nós um imenso respeito e admiração, como, através do seu vasto conhecimento, aliado à sua simplicidade e sentido de humor, foi capaz de nos aguçar a curiosidade em torno da história da floresta, colocando-nos de uma forma muito realista perante os problemas que a “gaiola” em que vivemos atravessa.
Apesar de não ser muitas das vezes referido, as florestas têm um enorme papel histórico no mundo. Tal como referiu o professor Jorge Paiva, as florestas são os maiores produtores de biomassa e consumidores de dióxido de carbono, ou seja, um dos melhores meios de combate ao aquecimento global; foram indispensáveis na vitória de Viriato contra os Romanos, na luta dos portugueses contra os mouros, na Guerra do Vietname, entre outras (era nas florestas que os soldados se escondiam e protegiam dos oponentes); são símbolo de várias regiões e países (a bandeira do Canadá tem como foco principal a folha típica da floresta deste país; o nome do rio Zêzere deriva do nome da árvore característica da região, o azereiro). No entanto, as preocupações da sociedade têm-se desviado por completo da proteção do pulmão verde do planeta: o Brasil conta apenas com 6% da sua floresta em relação à chegada dos portugueses no século XV; atualmente apenas existem 20% das florestas que existiam quando o ser humano apareceu na Terra; as florestas tropicais, às quais se assemelha a portuguesa, estão a desparecer, sendo que a cada 11 segundos é destruída uma área equivalente à de um relvado de futebol.
No que toca à floresta portuguesa, podemos dizer que poucos conhecem a sua história, talvez porque tenham vergonha do que estamos a deixar (muito pouco!). Ao contrário do que muitos deduzem, a árvore nacional não é nem o pinheiro nem o eucalipto, mas sim o sobreiro! A típica floresta portuguesa está a desmoronar-se: o pinheiro manso está a dar lugar ao pinheiro bravo, uma vez que este permite lucro mais rápido; as espécies típicas da floresta estão a ser substituídas por espécies exóticas; os produtos que a nossa floresta nos dá estão a perder o seu lugar de destaque na nossa alimentação. Quer seja difícil de imaginar ou não, a verdade é que a Serra da Estrela já esteve completamente coberta de árvores (assim como o Deserto do Saara!). A propósito desta ideia, Jorge Paiva deixou-nos a refletir sobre o que queremos para o nosso futuro: (num tom irónico) “Será que queremos viver num deserto de pedras? Só se formos de camelo!”.
Voltemos então à história da “gaiola”. Aquando da questão: o que será necessário fazer quando temos um passarinho aos nossos cuidados, dentro de uma gaiola? Muitos de nós responderão, em primeira instância, que o essencial será dar de comer e beber ao passarinho. Mas o que acontecerá se não limparmos a gaiola? O passarinho acabará, decerto, por morrer. Nós mesmo encontramo-nos nesta mesma situação, ainda que não o queiramos admitir, tal como nos fez ver o professor Jorge Paiva. “As pessoas esquecem-se que estão numa gaiola, que temos que sobreviver nela, que é preciso limpá-la. Estas gerações estão a deixar uma gaiola porca”, isto é, vivemos num país, num mundo, que está a cair no desastre (por exemplo, existe no Pacífico uma ilha de plástico com uma superfície equivalente a dezoito vezes a superfície de Portugal). É urgente perceber o que estamos a deixar, que é necessário focarmo-nos e preocuparmo-nos verdadeiramente, tal como nos fez vez ver o dinamizador da palestra.
É, então, com base em tudo o que já foi enumerado, que o biólogo de prestígio defende afincadamente a necessidade de um programa de educação ambiental, a recuperação dos serviços florestais e o ordenamento da floresta portuguesa, culminando a sessão apelando à atividade cívica que temos de manter viva!!!

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