Alice Marques/Manuela Prata


No âmbito do projeto INCLUD-ED, em gestação nas escolas do Agrupamento Poente, decorreu, no dia 20 de dezembro, uma ação de formação sobre Comunidades de Aprendizagem. Mais de três dezenas de professores participaram na sessão, que decorreu de manhã e de tarde, a maioria de escolas do Agrupamento Poente, e três duma escola de Paredes.
A sessão foi dinamizada pela Professora Maria Vieites Casado, de cuja biografia salientamos: é professora e psicopedagoga, com estudos pós-graduados em Gestão do Desenvolvimento. Deu início à sua carreira profissional no “Instituto Pedagógico Padres e Maestros” como editora-chefe da revista e formadora de famílias e educadores em estratégias pedagógicas inovadoras. Coordena o projeto “Comunidades de Aprendizagem” que é baseado em seis Práticas Educativas de Êxito, orientadas para a transformação social e educativa. Desenvolvido pelo grupo CREA da Universidade de Barcelona, o projeto é resultado de mais de 30 anos de prática, investigação e recolha de evidências. Estas Práticas Educativas de Êxito constituem um corpo de conhecimento gerado pelo Projeto INCLUD-ED.


Maria Casado fez uma breve abordagem do conceito Escola Comunidade de Aprendizagem e matriz ideológica com ele relacionado e mostrou pequenos vídeos, de diversas proveniências geográficas, sobre escolas Comunidades de Aprendizagem, demonstrando que todas as escolas podem transformar-se nelas.
Não sendo uma utopia, mas fundamentando-se no sonho, a escola como comunidade de aprendizagem é possível e não tem custos monetários associados. E tanto podem ser escolas de elite como escolas de bairros degradados, como demonstram as experiências (vários milhares) em curso em várias partes do mundo. Trata-se sobretudo de re-organizar a escola, envolvendo nela toda a comunidade escolar, as famílias e outros elementos da comunidade, na definição de prioridades, na tomada de decisão, no planeamento e na operacionalização, a partir do que cada um “sonha” ser a sua escola, de sucesso para todos.
De acordo com os dados mostrados por Maria Casado, estas medidas inovadoras fazem toda a diferença e a recolha de evidências tem comprovado que os resultados dos alunos melhoram, sendo por isso práticas educativas de êxito.
Ainda de manhã, foi abordada uma destas práticas organizativas, os Grupos Interativos, tendo como inovação fundamental a presença de voluntários, membros da comunidade, cuja função, em articulação com o professor, é o de facilitar a interação dos alunos, em cada um dos grupos, no desenvolvimento das tarefas.
A tarde foi dedicada, em grande parte, ao enquadramento, fundamentação e modo de funcionamento de outra das práticas educativas de êxito, as Tertúlias Literárias Dialógicas que, tal como referiu a convidada, assentam em dois critérios fundamentais: a leitura de literatura clássica universal e a participação tanto de crianças e jovens como de adultos sem títulos académicos e com pouca experiência leitora. Funcionando na base do diálogo igualitário entre os participantes, estas permitem o reconhecimento e valorização das diferentes experiências, contributos, inteligências, sensibilidades e perspetivas.
Para uma melhor compreensão, foi proposta a realização de uma Tertúlia Literária Dialógica a partir do Capítulo X do Livro “Oliver Twist” de Charles Dickens”. Gradualmente, os participantes foram-se apropriando da dinâmica de funcionamento e aumentando os níveis de participação e de reflexão. No final, reiterando as palavras de Maria, concluíram que estas, para além de fomentarem o diálogo e a troca de interpretações derivadas da leitura, contribuem também para a construção de conhecimento conjunto a partir do texto lido, reforçando a leitura crítica e aumentando, consideravelmente, as competências de comunicação, assim como o respeito pela vez de falar e pelas opiniões dos outros, enquanto expressão das suas próprias reflexões e argumentos.
Na sessão de encerramento, Maria Vieites Casado, partindo de uma reflexão enquadrada e fundamentada da violência e da lógica dominante da sua trivialização através da atratividade, apresentou o Modelo Dialógico de Prevenção de Conflitos em Contexto Escolar, cuja operacionalização requer a introdução de práticas e linguagens que garantam a violência zero. Assentes na interação entre pares, na criação de redes de apoio às vítimas e na promoção de valores de solidariedade e amizade, a criação do “Clube dos Valentes” em cada turma assume um papel fundamental. Os exemplos e testemunhos apresentados dão-nos conta de resultados francamente positivos alcançados nos diferentes contextos.
Muitos dos participantes nesta jornada de formação, aberta à participação voluntária de professores, frequentam atualmente o curso de formação sobre o INCLUD-ED, dinamizado pela professora Isilda Silva, que coordena o projeto no Agrupamento. É de esperar que, a curto prazo, se iniciem, nalgumas das suas escolas, práticas educativas de êxito que as transformam em verdadeiras Comunidades de Aprendizagem.

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