A prepósito de |Jorge Carreira Alves

Muitas pessoas deixam passar a vida por si como se ela não lhes pertencesse, como se não pudessem agir para delinear o rumo do seu destino, esperando apenas, pacífica e passivamente, que o futuro lhe caia aos pés, desejando conseguir a felicidade e a realização pessoal de forma gratuita ou como o prémio de qualquer concurso só acessível aos clientes mais fiéis da sorte e da fortuna. No entanto, as pessoas que se distinguem e que deixam uma marca indelével naqueles que compartilham o seu espaço vital, por serem fazedoras de caminhos, construtoras de abrigos de amizade, de lares de beleza, de casas de fraterna cumplicidade, essas são joias raras que devemos preservar e relembrar, por serem as que nos ajudam a moldar o espírito nos valores mais grandiosos da humanidade.
Uma dessas pessoas, que nos marca pelo seu exemplo, pela sua lealdade, pela sua inquestionável generosidade, é a Professora Alice Marques, que adotou esta nossa cidade da Marinha Grande como sua terra e que, desde há muitos anos, tem entregue a sua vida, o seu tempo, a sua saúde para engrandecer o nome da Escola Secundária Calazans Duarte, fazendo desta escola e desta terra um imenso espaço de compreensão, aceitação e integração do outro, sempre movida pelas grandes causas, com a sensibilidade de quem faz das artes o seu viver quotidiano.
Quem não se lembra daquela jovem ativa que se fez notar por tantas iniciativas culturais que “mexeram” com esta terra, na ocasião, tão votada ao marasmo é à descrença das contínuas crises dos anos oitenta do século passado? Quem não se lembra das polémicas, dos artigos que nos faziam discutir e pensar, que ela fez publicar no “Correio da Marinha Grande”? Mais recentemente, quem não recorda o empenho que ela demonstrou para que a nossa terra e a nossa escola fossem um exemplo de tolerância, de hospitalidade, de fraternidade entre os povos, quando ajudou a receber e a integrar os primeiros refugiados iraquianos que o nosso país recebeu, ou ainda mais recentemente, quando orgulhosamente cobriu as árvores do nosso recinto escolar com as cores de todas as nações, valorizando, ao mesmo tempo, o labor eterno das mulheres, aquelas que, carregando metade do céu sobre os seus ombros, suportam um esforço e um sofrimento inquestionavelmente muito maiores, com pouco ou nenhum reconhecimento por parte da nossa sociedade dominava por aqueles que se autodenominam “o sexo forte”? Isto, para não ser exaustivo e ter que citar muitas outras iniciativas que tanto marcaram pela sua beleza e sensibilidade.
Destas grandes causas se tem feito a vida desta mulher guerreira, desta mulher que tanto se dá aos outros e nada pede em troca, desta mulher capaz de iluminar as estradas do mundo com as cores de todas as artes com quem não nos cansamos de aprender o espanto e a sedução.
É também com ela que, ao longo destes já longos anos de convivência e de cúmplices trocas de experiências, temos avançado pelos caminhos das utopias, em que quase só ela acredita, mas que teimosamente continua a abraçar, com o seu espírito de artista rebelde e inconformado, ensinando-nos quotidianamente as cores e as formas da beleza do mundo, da beleza construída por quem faz da vida o lar universal da igualdade, da fraternidade e da liberdade, como os grandes heróis das gloriosas batalhas que inflamam mais profundamente os momentos das grandes transformações da nossa sociedade: da libertação do escravos, da igualdade entre povos, da queda dos déspotas tiranos, da dignificação de todos (homens e mulheres), num mundo sem opressão.
É com esta professora, artista, mentora de vontades, exemplo de vida, que queremos continuar a aprender, ao longo de muitos futuros anos, que queremos continuar a ver as belezas da vida e da criação artística que engrandecem e enriquecem a nossa existência: os únicos e verdadeiros valores que dão sentido ao viver do Homem. Por isso a chamamos a este jornal, ao qual tanto alimentou, fazendo dele uma referência de qualidade, de empenho, de participação ativa de muitos e muitos dos nossos alunos e de muitos professores que lhe estão eternamente gratos, sedentos da sua lúcida sabedoria e também da força das suas ideias.
É sempre junto a nós que te queremos, nossa amiga e mestra, Alice!

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