Jorge Marques | o 25 de Abril visto por um jovem


A sensação de poder viver numa democracia, após a ditadura salazarista, não pode ser descrita como menos do que liberdade. Liberdade para expor, sentir, viver, respirar. Coisas tão simples, como demonstrar uma relação afetiva em público, eram agora possíveis.
Tendo em conta a dimensão, a duração e o quão condicionado Portugal foi durante a ditadura, foi como reaprender a caminhar, voltar a falar, foi como renascer. Agora era possível ter uma opinião contrária sem temer as consequências, não era necessário pela primeira vez, considerar, as inúmeras possibilidades que iriam atentar as nossas vidas. Agora podíamos ouvir uma música de Zeca Afonso sem ter que imaginar como iriamos ser torturados por um agente da PIDE no dia seguinte, por exemplo.
Não é por menos, que algumas pessoas considerem o 25 de abril de 1974, como dia em que Portugal foi feliz. Até ali tinha sido criada uma cultura de sobrevivência, todos os atos que pudessem ser interpretados como opostos ao regime eram meticulosamente calculados, fossem estes a movimentação de ideias alternativas, a preparação de revoluções, ou apenas um concerto de um artista politicamente crítico. Durante mais de 45 anos, tudo o que afetasse o regime era procurado e eliminado, mas ali e agora, era possível viver sem todo esse estigma, todo esse medo, toda essa pressão; foi a libertação de toda a essência humana, que Portugal fora obrigado a reprimir todos esses anos, Portugal era humano novamente, a vida fora restaurada.

 

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