Sofia Puglielli

A sociedade portuguesa já esta familiarizada com os Ecopontos e o sistema da separação do lixo, talvez a quantidade de população que faz uso deste método ainda não é a ideal, mas sem dúvida tem havido um aumento da consciencialização em relação a esta questão tão importante. O papel do cidadão é separar e depositar o lixo no lugar devido, mas qual é a realidade que se encontra por detrás desta prática? Qual é o verdadeiro impacto da sustentabilidade? No passado 18 de abril, a Rotaract, uma organização não governamental cujo objetivo é prestar serviço à comunidade através da influência económica, ofereceu uma conferência em que estiveram presentes os setores público, associativo e privado para discutir o verdadeiro impacto da sustentabilidade. De facto, foram tratados múltiplos aspetos na discussão, mas o foco sempre foi o mesmo: o desenvolvimento sustentável direcionado aos resíduos no país. Por vezes, a ignorância parece justificar a pior das desculpas, o “não faz a diferença”. De facto, considerar que nada realmente acontece com o lixo classificado que se encontra nos Ecopontos é bastante comum. Fernando Leite, CEO da empresa Lipor, localizada no Porto, comenta como há 37 anos a companhia se encarrega da gestão e tratamento de resíduos através de três fábricas diferentes. Nestes locais, dezenas de toneladas de lixo são preparadas para a indústria transformadora, os resíduos orgânicos são aproveitados e os indiferenciados são queimados, “queimando produz-se vapor e através desse vapor se produz energia” explica o empresário, aportando cerca de 1% de energia elétrica à rede nacional. No entanto, com base em dados fornecidos pela ZERO, só 12% do lixo em Portugal foi tratado em 2018, isto é, de 600 mil toneladas de lixo, só foram recicladas 72 mil. Com o intuito de evitar que estes números se repetissem, foi criado, em fevereiro deste ano, o Pacto português para os plásticos. Esta iniciativa organizada pela associação Smart Waste Portugal, faz parte duma rede global de pactos para os plásticos que teve origem em Inglaterra e que atualmente é integrada por 7 membros. O propósito é solucionar os problemas associados ao plástico através de uma economia circular para este material, isto é, segundo Pedro São Simão, coordenador do Pacto português para os plásticos, “uma economia na qual não existem resíduos, se não recursos”. Desta maneira, os plásticos nunca se converteriam em resíduos. Este acordo realizado entre mais de 76 entidades da cadeia de valores dos plásticos nacional, compromete-se, até 2025, a cumprir um conjunto de objetivos ambiciosos em prol do ambiente, entre eles garantir que 70% das embalagens plásticas são efetivamente recicladas através do aumento da recolha ou da reciclagem, definir medidas para a eliminação de plásticos de uso único considerados problemáticos ou desnecessários e incorporar 30% de plástico reciclado nas novas embalagens de plástico. Contudo, Pedro Simão confessa “dizê-lo é muito fácil, fazê-lo é mais difícil”. Anabela Ferreira, que representa o setor privado através da empresa Intraplas, indústria transformadora de plásticos, comenta como “o plástico é eficiente, é fácil de utilizar, descartar e trabalhar”, a capacidade de reutilização destes materiais depende do eco design do produto e da qualidade do material, portanto, o verdadeiro problema é um assunto de comportamento social já que, segundo a especialista, todos os plásticos podem ser reutilizáveis. De facto, existe um certo dualismo, Tiago Rocha, moderador da conferência, comenta como há uma sociedade mais consumista que, ao mesmo tempo, também está mais preocupada com o ambiente. Porém, Fernando Leite explica que “tal como uma vacina, estas soluções não aparecem de um dia para o outro”. Para haver mudança é preciso investimento, desenvolver novos meios de tratamento de plástico, fazer com que a maior quantidade de empresas possível trabalhe com plásticos recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis e, sobretudo, mudar mentalidades. É um verdadeiro desafio fazer com que as embalagens recicladas predominem no mercado, mas é para isso que foi criado o Pacto, para começar a agir e para haver uma mudança. É importante consciencializar as pessoas sobre a reciclagem do plástico, sobre o verdadeiro efeito da sustentabilidade e, deste modo, fazer com que as pessoas percebam que o plástico só é um problema se for colocado no sítio errado. Por último, devemos ter em conta o efeito que a pandemia tem sobre a sociedade e como isto pode vir a afetar a realização dos objetivos do Pacto. Fernando Leite admitiu que, ainda tendo o plástico um novo uso e uma nova importância a nível hospitalar, “numa sociedade em mãos do Corona, ninguém quer reutilização e, com a pandemia, a separação do lixo, hábito que demorou muitos anos a ser tomado pelas famílias portuguesas, pode perder-se”. Deste modo, o plástico não será ameaça, mas sim o será a pessoa que o coloca no sítio errado.

 

Design by JoomlaSaver