M de Mulheres|Diogo Heleno


Antevimos o Oriente como um cruzamento de humanidade, um verde tónico indistinto, inacessível até. Le lotus bleau diria Hergé nos seus quadradinhos belgas (esses do Tintim; sim!, porque encadear a Bélgica com quadradinhos não resulta sempre na referência à guloseima óbvia). Demais a mais, se a quadratura asiática já foge à compreensão do mais comum dos observadores do Ocaso, os múltiplos contextos politico-económico-sociais em que ela surge, plenos de nuances, revelariam deles (dos observadores falo, evidentemente) uma ignorância decadente. Por isso não escrevo para falar dessas ramificações tridentadas de um continente oscuro, mas para trazer a luz imprescindível ao discernimento de alguma daquela escuridão. Le cor de les ténèbres, claro está. E nesta escuridão, um país que já não se trata por este nome: Birmânia. E nele uma mulher que, ainda se tratando pelo nome que sempre teve, pouco seria diferente se já não o fosse, para a maioria: Aung San Suu Kyi. É referida na World Politics Review, é descrita pelo The Guardian como defensora de Myanmar (aquele que já foi Birmânia) e promotora de um clima pró-democrático. Nascida a 19 de junho de 1945, em Yangon, a vida da jovem Suu Kyi foi bastante privilegiada.

Filha daquele que era considerado o pai da Birmânia moderna (ou Myanmar, como já se fez questão de referir), o responsável pela independência do poder britânico, teve como alma mater as Universidades de Deli, de Londres e de Oxford, coisa rara para uma jovem de um país do Sudeste Asiático, atirado como tantos outros para o limbo do Terceiro Mundo. Mas no fundo, aquilo que haveria de fazer de Aung San Suu Kye capa de periódico e revista política foi o seu papel preponderante na luta pela democracia, apelando à desobediência civil e inflamando manifestações mais tarde altamente reprimidas, o que levou a que fosse condenada a mais de 21 anos de prisão domiciliária. Apesar de tudo, durante esse período foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz de 1991, o que lhe devolveu grande consideração internacional.

Design by JoomlaSaver