Diogo Heleno |M… de Mulheres

A Revolução de 25 de abril de 1974 foi feita por homens, pois foram militares portugueses homens que pensaram e executaram o golpe de estado para acabar com a Guerra Colonial e com uma ditadura com quase meio século. No entanto, há que pensar no lugar ocupado pelas mulheres na revolução dos cravos.
Maria Teresa Mascarenhas Horta é uma escritora, jornalista e poetisa portuguesa que dá voz a esta força revolucionária feminina e que a põe em evidência. Segundo a mesma, “toda a gente ganhou com o 25 de Abril. Mas as mulheres particularmente, porque as mulheres de repente descobriram que podiam ir para a rua, descobriram que podiam dizer não, não quero isto”. Filha de Jorge Horta e de Carlota Mascarenhas, é oriunda de uma família da aristocracia portuguesa com antepassados ligados à célebre poetisa Marquesa de Alorna. Enquanto escritora, fez por denunciar, criticar e expor aquilo que o regime não permitiria, sendo vítima da censura ditatorial. A revolução acabou por ser a sua salvação quando, dois anos antes, escrevera Novas Cartas Portuguesas, juntamente com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno. As três coautoras desta obra foram acusadas de pornografia, obscenidade e abuso da liberdade de imprensa por ousarem falar da sexualidade de uma forma clara e da guerra de África, “dupla afronta”, como a própria afirma.
Enquanto feminista, Maria Teresa afirma que as lutas feministas foram ofuscadas antes da revolução pelas lutas pela liberdade, porque “antes de lutar pelos direitos das mulheres, era preciso lutar contra a ditadura moralista”. E esta luta pela emancipação feminina teria de ser completamente diferente das que aconteceram nos Estados Unidos, ou mesmo no Reino Unido, porque não existia em Portugal uma constituição democrata, mas sim uma atmosfera que dava à mulher um estatuto de inferioridade total, as quais eram muitas das vezes analfabetas e tratadas por “companheiras na sombra”.
Deste modo, quando Marcello Caetano foi derrubado e Celeste Caeiro repartiu cravos vermelhos pelos militares, o que se assistia era a uma libertação dos direitos femininos e um passo importantíssimo na emancipação das mulheres.
Maria Horta acabou por receber a ordem honorífica do Infante D. Henrique e recentemente recebeu o Prémio Autores de 2017.

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