Diogo Heleno

Naturalmente, não foi algo de muito colorido, nem tão pouco muito revelador para o mais comum observador; atrevo-me a dizer que não muito bonita, voltada muito mais (ou totalmente) para a ciência que para regozijo e arte (se é que ciência não a é também, pelo menos um pouco!). O que digo é que esta imagem, que a pouco mais do que a um conjunto de pontos se assemelha, não representa a visão lírica da ciência ou o entusiasmo que a ficção parece incendiar em películas: é, por isso, tão-somente uma pouco interessante, descolorida fotografia pouco prendada de beleza e importância, que, grosso modo, foi a prova cabal do modelo de estrutura da molécula de ADN – científica, e quase barbaramente, devo dizer, designada por ácido desoxirribonucleico –, proposto por Watson, Wilkins e Crick – galardoados com o prémio Nobel da fisiologia em 1962 – com base neste e outros estudos.
No século de Niels Bohr, Ernest Rutherford, Marie Curie ou (talvez menos conhecido) Albert Einstein, ironicamente bastou uma pouco nítida fotografia a preto e branco para mudar a perspetiva desta simpática molécula, que no quotidiano descrevemos como sendo: umas fitinhas de bailarina enroladas em laços, ou uns fios de lã tricotados em hélice.
A britânica Rosalind Franklin, nascida a 25 de julho de 1920, foi, muito simplistamente, aquela que fotografou o ADN. E afora o ADN, ficou conhecida nos campos da física, química e cristalografia por raio X, por também contribuir de forma significativa para a descoberta do modelo estrutural da grafite e dos vírus. De frisar é o facto de que foi voluntária no Air Raid Warden, durante a 2.ª Guerra Mundial, fazendo patrulhas regulares para garantir a segurança de populares durante ataques aéreos alemães. Após anos doados à causa científica, Rosalind acabou por morrer de um cancro nos ovários quando tinha apenas 37 anos, a 16 de abril de 1958.
Hoje, Franklin conta com uma bibliografia extensa, pormenorizada e bem trabalhada, o que revela a eminência desta figura, homenageada até pela empresa Google num dos seus ícones personalizados (ou doodles), devido aos seus estudos científicos.
Resta-nos agradecer pela sua influência científica, e, tal como a própria afirma, não esquecer que a ciência pode começar numa fotografia turva e sem cor, pois «a ciência e a vida quotidiana não devem nem podem ser separadas».

 

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