Manuel Ferreira


“A hora mais negra” de Winston Churchill

“A hora mais negra” é um filme que retrata mais um episódio da Segunda Guerra Mundial, neste caso da parte política da guerra, trazendo-nos como protagonista o enigmático Winston Churchill num dos mais difíceis momentos da sua carreira como primeiro-ministro do Reino Unido.

É em 1940, com a queda iminente de França e a ameaça de invasão que a Grã-Bretanha enfrenta terríveis dificuldades. À medida que o imparável exército Nazi avança, e com o exército aliado encurralado nas praias de Dunquerque, o destino da Europa Ocidental está nas mãos do novo Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, Winston Churchill (Gary Oldman), que tem de decidir entre negociar com Hitler e salvar o povo britânico de um destino horrível, ou reunir a nação e lutar até ao último suspiro.

O filme é-nos entregue pelas mãos de Joe Wright (“Expiação” e “Orgulho e Preconceito”), que dá o seu brilho a uma história inesquecível, com uma fotografia ao longo do filme (entregue por Bruno Delbonnel) repleta de tons escuros e alguma luminosidade recorrente (ainda que escassa), que nos lembram a ação e a ânsia daquele momento, mas também a esperança e fé presentes no protagonista. Desta forma, o filme passa-se entre corredores e salas sombrias que mostram a situação da nação inglesa num dos períodos mais negros da sua história.

Gary Oldman entrega-se por completo a um dos personagens mais icónicos do século XX, captando toda a sua essência com muita garra e talento. Acaba por se destacar em todas as cenas que entra, tendo já recebido um Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator, este ano, por tal feito, e estando nomeado, também, na mesma categoria, para os Óscares da Academia, sendo um dos mais fortes candidatos à estatueta dourada. Ao seu lado, Kristin Scott Thomas, Lily James e Ben Mendelsohn destacam-se, também, nos seus papéis, embora nenhum deles consiga superar a intensidade de Gary Oldman e o seu grandioso papel.


O argumento, escrito por Anthony McCarten (nomeado aos Óscares pelo argumento de “A teoria de tudo”), traz um filme repleto de diálogos impressionantes, não contendo grandes planos de ação, o que permite que o guião ganhe um maior destaque na longa-metragem.

É curioso como, em 2017, também foi retratado este momento no cinema, não na perspetiva política, mas militar, com os jovens que se encontravam cercados nas praias de Dunkirk (Dunquerque) e cujo único desejo era voltar para casa. Esta, no entanto, encontrava-se no outro lado do Canal da Macha, que parecia impossível de atravessar. O filme referido é “Dunkirk”, realizado por Christopher Nolan (“Interstellar” e “A origem”), que também se encontra na corrida aos Óscares. Assim, os dois filmes mostram-nos os dois lados da história, complementando-se mutuamente: “A hora mais negra” explica-nos o porquê dos acontecimentos e “Dunkirk” mostra-nos como foi no terreno.

Em suma, “A hora mais negra” traz-nos não só o retrato biográfico de uma Grã-Bretanha às portas de ser ocupada por um exército maciço, como também o de um marcante personagem, através de uma extraordinária performance, que representa toda uma nação e que, por mais evidências de que possa estar derrotado, não desiste e faz de tudo para o evitar. Um filme magnífico que recomendo, sem dúvida.

Link da imagem:
http://www.slate.com/blogs/browbeat/2017/12/08/what_s_fact_and_what_s_fiction_in_darkest_hour.html

 

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