Manuel Ferreira

Lady Bird – Um filme para aqueles que anseiam por novos horizontes

A jornada existencial à procura do nosso propósito enquanto queremos fugir o mais depressa possível da nossa zona de conforto é uma das grandes temáticas de “Lady Bird”, adolescente que quer ir para o mundo não só para o compreender, mas também para se descobrir a si mesma.
Nesta longa-metragem de 90 minutos, vemos explorada a história de Christine McPherson, mais conhecida pelo nome que dá título ao filme, uma jovem que tem 17 anos e está no seu último ano de liceu em Sacramento, na Califórnia, local onde sempre viveu. Esta ambiciona sair o mais rapidamente dali para ir estudar para uma universidade na costa leste, longe da sua família, para iniciar finalmente a vida com que sempre sonhou.
Este filme toca não só nos dilemas e preocupações da protagonista, como nas relações que esta tem com as personagens no seio familiar e em seu redor, mais especificamente com a sua mãe, Marion, com quem, ao longo da ação, entra em constante conflito. A relação entre as duas é trabalhada minuciosamente pelo choque intenso de personalidades e amor incondicional que existe, que é nos entregue pelas performances de Saiorse Ronan e Laurie Metcalf.
A realizadora e argumentista Greta Gerwig cria personagens de carne e osso, interpretadas com simplicidade e esplendor. Tanto Ronan como Laurie conseguem superar as expetativas, sendo magníficas por si só e revelando grande cumplicidade em todas a cenas em que se encontram. Demonstram-se, por isso, merecedoras dos Óscares para os quais foram nomeadas. Não esquecendo, claro, o resto do elenco, que se mostrou igualmente competente para o peso do enredo.
Gerwig estreia-se na realização com uma naturalidade de quem já está nela há muito tempo, oferecendo um retrato impressionista de uma vida que diz ser inspirada na sua, com um cunho pessoal e sentido. Uma carta de amor a Sacramento, sua terra natal, com o olhar de quem lá quer escapar o quanto antes, para depois se aperceber do quanto a ama quando finalmente o faz. Reflete no percurso conhecido por muitos que são ou já foram adolescentes, no ano decisivo de quem está prestes a tornar-se adulto e o seu percurso para se descobrir a si e ao seu lugar no mundo.
Esta é, na verdade, umas das grandes problemáticas que muitos jovens de hoje em dia enfrentam quando acabam o secundário e lhes é aberto um novo capítulo, totalmente em branco, para se traçar, sendo esta uma das provas fulcrais para mostrar o quão este filme é realista em cada momento e como é fácil identificarmo-nos com qualquer situação da trama.
O filme está escrito de forma genuína e envolvente, com um toque de humor que convida o espectador a sentir a essência humana da forma mais pura possível, e a beleza de uma adolescente que quer encontrar o seu espaço à força, mesmo que isso implique afastar-se de tudo e de todos.
Lady Bird consegue alcançar sabiamente a substância dos belos filmes de coming of age, com momentos sublimes que nos levam a pensar se não foram improvisados na altura em que foram filmados. Não contendo clichés do costume nem procedimentos formais, parece-se mais com quando alguém nos conta a história da sua vida e nos revermos naquilo que ouvimos, de certa maneira, de tão real que parece.
Em suma, esta obra cinematográfica é uma comédia dramática que trata de forma cuidada os valores que nos definem, as relações que nos influenciam e a perfeição inigualável de um lugar chamado casa. “Lady Bird” estreou em Portugal a 8 de Março e bateu recordes a nível mundial com mais de 170 críticas positivas no site Rotten Tomatoes com o registo perfeito de 100% Fresh (atualmente com 99%). O filme ganhou vários prémios singulares (incluindo 2 Globos de Ouro) e foi também nomeado para cinco Óscares nas principais categorias, tendo sido Greta Gerwig a quinta realizadora a ser nomeada na história dos Oscáres.
Link da imagem: http://variety.com/2017/film/news/austin-film-festival-lady-bird-greta-gerwig-1202556612/

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