Maria Inês Monteiro - 9ºD

Desço a rua, cumprimento os meus vizinhos, entro no metropolitano, sorrio para a menina que está na bilheteira e digo-lhe “Bom dia”.
- Bom dia - respondeu ela - como tem passado? Eu, sem querer contar a história de uma vida, retribuo com “Bem, obrigada!”. Lá lhe pedi o bilhete, agarro no pequeno retângulo e no troco, e comento, admirada:
- O preço dos bilhetes está cada vez mais alto!
Ela concorda, apesar de ser a venda dos bilhetes que lhe paga o salário. Não conversamos muito, mas vejo nela uma nova amiga.
Desço a escada, espero pacientemente que o olho mágico da carruagem subterrânea espreite pelo túnel. Depois de tanta palração, ela chega, para, parte. No interior, famílias e amigos falam animadamente, escondendo todo o som daquela ferragem barulhenta, fazendo soar a alegria. Saio na minha paragem, subo as escadas daquele formigueiro entusiasta, ou do túnel de toupeiras cegas, a bater contra tudo de tão embrenhadas que estão nas histórias contadas pelos acompanhantes. Sigo pela rua fora - outra rua-, e entro numa loja. Com o cesto de metal na mão, escolho caixas, latas e latinhas, sacos. Aquilo tudo é bonito, arranjado, atraente. A menina da máquina registadora recebe a nota, dá-me o troco e uma lição de história sobre a relativa importância do dinheiro. A partir daquele dia, verifico cada moeda que me vem parar ao bolso. Uma senhora muito amigável, não haja dúvida! Olha para todas as caras que desfilam diante si e decora-as. Fui para casa sem contar o troco, pois tão especialista em moeda, de certeza que a jovem não se enganou. Ela sabe o que faz e a máquina também. Tenho, de repente, uma onda de empatia para com o bilhete de demasiados tostões, que pode deixar de se pedir em elétricos e autocarros a um funcionário alegre. Isso entristece-me. Mas o merceeiro sempre nos perguntará como estamos de saúde, e da família, é claro. Sinto-me bem em ouvir as palavras insignificantes, porém importantes. Volto a casa com as minhas compras atraentes e eufóricas. Se isto for o futuro, eu gosto.