Vozes do Poente |Rodrigo Claro, aluno (12º A)

VITA BREVIS, ARS LONGA – Fragmentos de Existência

Chega dezembro e, com ele, a magnífica época natalícia...! As casas e as ruas orlam-se de luzes matizadas, erguem-se pinheiros opulentos de debrum e o meigo calor da fogueira abraça-nos a alma! Além de bela do ponto de vista estético, esta altura do ano é também marcada pelo inigualável espírito natalício: não há nada com terminar o ano numa nota positiva, fomentando a confraternização, mostrando gratidão e praticando atos verdadeiramente altruístas e caridosos.
Com efeito, são copiosas as amostras da primeira vertente – a material – do Natal. Findas as modestas celebrações do Halloween, somos imediatamente avassalados por uma imensidão de produtos que se mostram disponíveis: intermináveis coleções de moda, brinquedos em quantidades inconcebíveis, decorações que em nada diferem das do ano anterior... Já a outra dimensão desta época festiva – a Humana – mostra-se muito menos prevalente: raramente suspendemos os demais aspetos da nossa vida para nos entregarmos efetivamente à solidariedade e à fraternidade.
Não creio, contudo, que esta indiferença face à importância da comunhão interpessoal reflita, de forma alguma, uma tendência de desumanidade ou de insensibilidade na nossa sociedade. Considero que esta atitude desapegada que parece generalizar-se parte do modo desatento e ausente como navegamos o mundo, fruto do frenesim em que vivemos.
É inegável que, nos dias que correm, o número de expectativas que são sobre nós projetadas pela sociedade é infindável. Todos tentamos, de alguma maneira, conformar-nos às convenções sociais: somos guiados por padrões estéticos, quer na forma como nos apresentamos, quer na forma como entendemos o mundo; deixamos deixar transparecer, nas nossas interações e nas redes sociais, somente uma versão filtrada – e, frequentemente, fingida – das nossas vidas; tentamos ao máximo alcançar metas académicas e profissionais; almejamos acumular tanta riqueza material quanto possível.... E então, absortos no alvoroço destes domínios das nossas vidas, acabamos por negligenciar aquilo que verdadeiramente importa.
E, perante esta constatação, questiono-me: Porquê? Porque passamos tanto tempo preocupados com a nossa aparência e com a forma como somos entendidos pelos outros? Porque tentamos, incansavelmente, alcançar objetivos irrealistas que nos preenchem com uma satisfação meramente momentânea? Porque manifestamos esta insaciável sede de acumular património físico? Não percebo. Todos estes aspetos da vida são vãos. Não passam de distrações supérfluas que nos privam de disfrutar absoluta e genuinamente da experiência humana. Focamo-nos nestas facetas levianas sem qualquer motivo aparente.... Afinal, somos apenas meros passageiros nesta dimensão física... insignificantes transeuntes nesta álea de realidade... E percorrer este trajeto efémero, cativo dos nossos tormentos, inseguranças e ganâncias, é viver desligado, abstraído, sugado por leviandades. É existir acorrentado a uma falsa realidade convulsa, incompatível com a felicidade inerente à fruição do momento presente e do amor por outrem. É ser malogrado.


Tomemos como pretexto a magnífica altura do Natal para nos voltarmos para dentro e meditarmos. Não sejamos errantes na névoa da ambição, da preocupação com o nosso legado, da insegurança. É essencial compreender que, para retornarmos a nós próprios, temos necessariamente que abnegar de tudo o que é acessório. Foquemo-nos nas pequenas coisas: o prazer de ver o sorriso de uma criança que recebe um presente, a alegria de voltar a ouvir músicas de Natal na rádio, o amor inesgotável de estar em família. A felicidade e a plenitude residem na renúncia do prescindível e na senda da paz interior. Não nos alienemos de nós próprios, e deleitemo-nos com cada fragmento de existência.

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