Três perguntas para… |Sandra Veiga
Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas
- Em termos de direitos humanos, qual o maior desafio que o mundo enfrenta de momento?
O mundo enfrenta hoje complexos e numerosos desafios. Assistimos diariamente, através da comunicação social, constantemente e a todo o minuto, inúmeras aguilhoadas, obstáculos e atropelos aos direitos humanos. É difícil identificar o maior de todos. É preocupante as constantes violações do direito à vida, à segurança e à liberdade.
Muitas áreas em todo o mundo são afetadas por conflitos armados, terrorismo e violência, levando à perda de inúmeras vidas, demasiadas vidas, ao deslocamento de pessoas e a um imenso sofrimento. Estes conflitos envolvem frequentemente violações generalizadas dos direitos humanos, execuções sumárias, tortura, violações e desaparecimentos forçados.
A discriminação por vários motivos, raça, género, etnia, religião, orientação sexual, estatuto económico, acentua-se e dissemina-se de forma muito célere. As comunidades e os indivíduos marginalizados enfrentam desigualdades no acesso à justiça, à educação, ao emprego, aos cuidados de saúde e a outros direitos básicos. Esta desigualdade perpétua ciclos de pobreza e de exclusão.
Governos e intervenientes não estatais continuam a suprimir a liberdade de expressão e a limitar a liberdade de imprensa. Jornalistas, ativistas e vozes dissidentes enfrentam ameaças, assédio, detenções arbitrárias e até violência. Tal restringe a capacidade de manifestação, de denúncia de violações dos direitos humanos e da responsabilização dos responsáveis.
A crise dos deslocados, com inúmeros refugiados e migrantes que fogem de conflitos, perseguições e pobreza, apresenta um desafio significativo. Muitos enfrentam violações dos direitos humanos ao longo das suas viagens, tráfico de seres humanos, exploração e negação a cuidados de saúde e educação.
O impacto das alterações climáticas representa uma grave ameaça aos direitos humanos. As comunidades já vulneráveis às desigualdades socioeconómicas são desproporcionadamente afetadas por catástrofes naturais, perda de meios de subsistência e falta de acesso à água potável, alimentos e habitação. Estamos a esgotar o oxigénio das futuras gerações. A necessidade de abordar estas questões e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento sustentável é crucial nos tempos que correm.
O aumento do populismo, do nacionalismo e do autoritarismo em muitos países, tem contribuído para uma erosão dos direitos fundamentais e das liberdades individuais.
É importante notar que estes desafios estão interligados e as suas soluções requerem uma atenção global e esforços coordenados por parte dos governos, organizações internacionais, ONG e do cidadão anónimo para garantir a proteção e a promoção dos direitos humanos em todo o mundo.
- De que forma a escola pode contribuir para a defesa dos direitos humanos?
De diversas formas, muitas delas, práticas frequentes no nosso agrupamento há vários anos: informando e elucidando, providenciando discussões e reflexões sobre os direitos humanos, princípios básicos e leis que os protegem.
Criando um ambiente inclusivo onde todos os alunos sejam e se sintam respeitados, independentemente da sua origem étnica, religião, orientação sexual e/ou deficiência. Realizando programas de conscientização, palestras, atividades extracurriculares e políticas que promovam o respeito mútuo entre os estudantes, que possam prevenir e combater o bullying, atos de violência física, verbal ou psicológica.
Incluindo temas relacionados com os direitos humanos no currículo escolar, nos conteúdos das diferentes disciplinas por forma a garantir o conhecimento e a sua compreensão, incentivando e ajudando os alunos a tornarem-se cidadãos conscientes e proativos. Estimulando a participação dos alunos em debates, fóruns de discussão e atividades que envolvam a defesa dos direitos humanos, ajudando-os a desenvolver o pensamento crítico.
Colaborando com organizações e instituições locais, nacionais ou internacionais que trabalham na defesa dos direitos humanos.
Desenvolvendo campanhas e projetos educativos na comunidade, contribuindo para a consciencialização pública e para a mudança de mentalidades e comportamentos em relação aos direitos humanos.
Considero importante ressaltar que a defesa dos direitos humanos é uma responsabilidade não apenas da escola, mas de toda a sociedade. A escola, com os pais, encarregados de educação e a comunidade, desempenha um papel fundamental na formação de indivíduos conscientes, responsáveis e comprometidos com a promoção e defesa dos direitos humanos.
- Imagine que tinha direito a ser visualizado e ouvido em todas as redes sociais durante um minuto. Que mensagem gostaria de transmitir a todos os cidadãos do mundo?
Caros cidadãos do mundo,
Neste minuto em que tenho a oportunidade de ser ouvida e visualizada em todas as redes sociais, gostaria de transmitir uma mensagem de união.
Unamo-nos diante da nossa humanidade partilhada e lutemos juntos por um futuro mais brilhante.
Vivemos num mundo onde as divisões muitas vezes ofuscam as nossas aspirações comuns de paz, compreensão e progresso.
Quebremos as barreiras e trabalhemos para um mundo mais harmonioso. Abracemos a empatia. É a capacidade de compreender e partilhar os sentimentos dos outros que nos permite preencher as lacunas que nos separam. A empatia promove o respeito e a unidade entre diversas culturas, religiões e comunidades. Ao cultivar esta virtude fundamental podemos construir uma base sobre a qual podemos coexistir com dignidade.
Apelo a que cada um de vós abrace o poder da educação. A educação não é apenas um privilégio, é um direito inato de todos. Permite-nos quebrar as correntes da ignorância e do preconceito. Através da educação, podemos erradicar a pobreza e promover um desenvolvimento sustentável. Podemos construir um mundo onde a paz prevaleça e onde todos tenham a oportunidade de prosperar. Façamos o possível para garantir um futuro sustentável para as próximas gerações. Priorizemos a educação e garantamos que todas as crianças, independentemente das suas circunstâncias, tenham acesso ao poder transformador do conhecimento.
Concidadãos globais, o poder de moldar o nosso destino partilhado reside dentro de cada um de nós. Vamos quebrar as barreiras que nos dividem e embarquemos juntos na construção de um mundo melhor e acreditem que só o conseguiremos se estivermos verdadeiramente comprometidos.
Unidos podemos alcançar grandes mudanças.
Obrigada por ouvirem a minha mensagem e lembrem-se que nenhuma voz deve ser ignorada e nenhuma ideia deve ser deixada de lado.