Rubrica: MMM – Mulheres que Mudam o Mundo… |Jorge Alves, professor
MMM – Mulheres que Mudam o Mundo… As Mães da Praça de Maio
Agora que, na Argentina e em outras partes do mundo, assistimos a uma deriva política que poderá ter consequências catastróficas e imprevisíveis, achámos por bem invocar nesta rubrica em que se valoriza o papel da Mulher na transformação da humanidade, a valorosa luta das Mães da Praça de Maio, um grupo de mulheres que, contra toda a opressão de uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina no século XX, fizeram com que todo o mundo pusesse os olhos nas barbaridades que se estavam a cometer na Argentina, durante a ditadura militar que vigorou entre 1976 e 1983.
Este movimento de mulheres que tinham perdido os seus filhos e outros familiares, por causa da repressão daquela feroz ditadura que eliminava e fazia desaparecer todo aquele que fizesse alguma oposição ao regime, começou por ser “capitaneado” por Azucena Villaflor, tendo o apoio de duas freiras francesas, Alice Domon e Léonie Duquet, começou a manifestar-se silenciosamente, na Praça de Maio, em Buenos Aires, em frente à sede do Governo, a Casa Rosada, ostentando como símbolo lenços brancos que colocavam à cabeça, simbolizando as fraldas dos seus filhos desaparecidos. A sua ação, apesar da tortura e das mortes infligidas a algumas das suas líderes, nomeadamente, Azucena Villaflor, que terá sido morta e lançada ao mar, como sucedeu com muitos opositores políticos, ganhou maior visibilidade aquando da realização do campeonato do mundo de futebol, quando os mass-média mundiais tiveram conhecimento desta luta e da indomável resistência destas mulheres que, todas as quintas-feiras, silenciosamente, perguntavam pelos seus filhos e outros familiares desaparecidos.
Refira-se que, para além de prenderem, torturarem e matarem muitos dos seus opositores, os militares que dirigiam este regime despótico retiravam-lhes também os filhos, matando-os ou dando-os para adoção forçada, daí, estas mulheres exibirem os lenços brancos na cabeça – as fraldas dos recém-nascidos que lhes haviam sido roubados. Ainda hoje, muitos destes meninos, agora adultos, não conhecem os seus familiares biológicos e muitos pais e mães continuam sem saber se os seus filhos estão vivos ou mortos.
Mesmo após o final da ditadura, a luta destas mulheres não terminou, porquanto, apesar dos julgamentos havidos e das condenações dos políticos opressores, ainda existem muitos desaparecidos de quem ninguém soube o rasto, cerca de trinta mil, as vítimas do período que ficou conhecido pelo nome de “guerra suja” de tal forma foi violenta e bárbara a repressão desta ditadura.
Mais recentemente, o movimento das “Mães da Praça de Maio” dividiu-se em duas fações: uma, mais moderada, que pretendia apenas continuar a saber dos desaparecidos vítimas da ditadura, outra com uma intervenção mais radical, através da liderança da ativista política Hebe de Bonafini, ganhou contornos de uma maior intervenção social, promovendo o apoio à habitação em bairros mais desfavorecidos de Buenos Aires, tendo também um cariz educativo e informativo, porquanto chegou a ter meios de comunicação social e uma universidade, tendo também uma enorme e, por vezes controversa, intervenção política.
Apesar de todas as transformações políticas ocorridas naquele país, a luta das “Mães da Praça de Maio” continua ativa, porquanto, agora, para além de quererem fazer justiça em relação a sanguinária ditadura militar, a sua ação abrange todas as injustiças sociais. Por isso, todas as quintas-feiras, na Praça de Maio, as mulheres marcam presença para nos mostrar quão importante é não desistir das nossas lutas, sobretudo quando se trata de acabar com as injustiças e a opressão.
(Fotografia disponível em https://agencia.ecclesia.pt)