Tertúlia de Sabores | Maria João S. Lagoa

No dia 21 de novembro recebemos na nossa escola a Confraria da Sopa do Vidreiro, que nos veio ensinar a preparar a tradicional refeição – Sopa do Vidreiro. As sopas de bacalhau são comuns de norte a sul de Portugal, facto que podemos encontrar provado em exemplos espalhados por múltiplos livros de gastronomia, a Marinha Grande pelas suas caraterísticas, incluindo posição geográfica, não é exceção. Esta sopa tem por base o pão e a broa que sobravam do dia anterior, eram migados para dentro da púcara ou recipiente onde for servido, misturando pedaços de batata cozida, e sobre estes ingredientes era lançada a porção de bacalhau previamente cozido (em algumas situações lascado). Por cima, alguns dentes de alho cortados finos e um ovo escalfado. Bastas depois colocar o indispensável raminho de hortelã e ensopar abundantemente com o caldo da sopa. Ainda, por fim, mas não menos importante devemos regar com um bom azeite e abafar com a tampa o recipiente. Tradicionalmente, de inverno, era embrulhada em jornais ou panos, para manter quente.

A Sopa do Vidreiro era consumida principalmente por “gente pobre “, eram usadas as partes menos nobres do peixe seco e demolhado, no entanto, este facto vai intensificar sabor e acrescentar mais nutrientes à confeção final, presentes nas espinhas, na pele e na cartilagem. O tipo de bacalhau empregue na sua confeção era sempre o mais económico, também não eram usadas as postas inteiras, mas sim as partes de qualidade inferior, e para disfarçar o peixe era frequentemente desfiado. Podemos aceitar que o hábito de comer esta sopa, por todos os operários vidreiros, tem especialmente duas razões, o alto valor nutricional e o facto de ser economicamente bastante acessível. No entanto, diz-se que todos os operários comiam o mesmo tipo de refeição porque, desse modo, todos ficavam com as bocas impregnadas dos mesmos paladares e odores. Assim, no trabalho, depois de almoço, as ditas canas do vidreiro, passando de boca em boca durante o laborioso trabalho, não tinham nada de diferente para transmitir de uns para outros, já que todos tinham comido a mesma Sopa do Vidreiro. Para além de um prato muito saboroso é de fato o cumprimento de uma tradição muito importante que enriquece a cultura gastronómica das gentes da Marinha Grande.

 

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