Débora Francisco (12ºI)


Tudo nos noticiários ultimamente fala do nosso grande inimigo invisível, o perigoso Corona Vírus. Talvez se a época futebolística ainda estivesse a decorrer as notícias fossem outras, mas a verdade é que só o desastre acaba por ultrapassar a ausência do desporto na vida do homem comum do século XXI. Por isso, todos os dias ouvimos o número de infetados e de mortos aumentar, trememos perante os relatos de todos os sintomas que poderemos ter no caso de sermos portador da doença e apontamos negativamente o dedo a quem teve a audácia de criar notícias falsas sobre este bicho papão que nos tem vindo a consumir nos últimos meses. Admito que possa parecer que tenho uma visão relativamente irónica sobre o COVID-19, não me levem a mal, acho tudo isto extremamente importante, mas o que me revolta imenso é o facto de só se lembrarem destes aspetos tão cruciais quando uma pandemia se abate sobre nós. Não é sempre essencial lavar as mãos e ter cuidados higiénicos básicos? Não devia ser uma preocupação social respeitar o espaço pessoal de desconhecidos? Não devíamos manter, em todos os casos, motivações pessoais para contactar quem amamos? Bem, acho que a minha resposta a todas estas perguntas retóricas está clara. No entanto, foi-me pedido para filosofar sobre a ideia de estarmos mais afastados ou próximos uns dos outros, por isso vou apagar um pouco de mim por enquanto e discursar criticamente sobre coisas que muitos de nós temos pensado, mas poucos de nós temos dito. Tirando o facto de termos de considerar a importância de nos afastar temporariamente da nossa vida quotidiana, repleta de relativa proximidade em locais públicos, tenho grande dificuldade em me aperceber se estamos realmente mais afastados uns dos outros. Com todas as tecnologias que existem nesta nossa vida (e as mais de mil repentinamente inventadas para salvaguarda lucrativa neste tempo de isolamento social), penso que continuamos bem juntinhos psicologicamente. Temos uma maneira de contactar uns com os outros, matar as saudades de quem está fisicamente longe de nós e costumava estar tão perto. Mas, mesmo depois de todo este discurso, acabo por regressar aos meus dilúvios anteriores – isto não acabará por nos tornar mais fortes? A nível de saúde, a resposta é um absoluto não, tanto se formos “vítimas” desta doença como não sendo, pelas preocupações e o elevado número de horas confinados num espaço tão pequeno como as nossas casas. A nível social, talvez: poderemos aprender a ser mais versáteis, temos algum tempo para recarregar as nossas baterias conversacionais e aprendemos (finalmente) a dar o devido valor ao que nos é garantido de mão beijada no dia-a-dia. Sempre ouvi dizer que a saudade é como uma chama no afeto, que este termo tão bonito e tão português torna todos os sentimentos mais fortes quando voltamos a estar com quem dela era alvo. Penso que, bem no fundo de mim, compreendo o porquê de nos sentirmos tão afastados uns dos outros. No momento em que escrevo, já se passou um mês desde a última vez que saí de casa. Estou preocupada com a minha avó, que está doente já há alguns meses, e perdi a oportunidade de visitar o meu padrinho e a minha madrinha esta Páscoa. Mas tudo isto aconteceu porque estou a respeitar aquilo que me foi pedido, porque não me importo de me render a este sacrifício pelo bem maior de nos vermos livres deste monstrinho que, pela ideia de algum génio desnaturado, é uma bela desculpa para pintar xenofobia e racismo por todos os fóruns online disponíveis. Se for para criar uma pequena conclusão pessoal algures neste texto, penso que o Corona Vírus nos aproximou de nós próprios, mas nos afastou como comunidade humana. Posso estar errada, todas as opiniões são passíveis de ser revisitadas, mas parece-me que as relações interpessoais dependentes de cada um de nós permanecem bastante fortes. Num tempo crítico como este, verdadeiramente observamos quem se importa profundamente connosco, quem se esforça por manter contacto e, quando voltarmos a estar juntos, iremos aperceber-nos de quem sentiu a nossa falta. Agora enquanto seres humanos? Uma verdadeira catástrofe, se me é permitida a pequena hipérbole. Os telejornais não servem somente para nos informar e entreter ultimamente, são também úteis como forma de colecionar todo o horror que governa nesta humanidade: presidentes a ofenderem nações inteiras ao pequeno-almoço, líderes religiosos a expressarem visões radicais ao almoço, doente fugitivos aos jantar e provavelmente mais uns quaisquer escândalos para ocupar lanches, ceias e sobras. A falta de respeito que temos uns para com os outros está mais visível do que nunca e a única coisa que tive de fazer para concluir isso foi ficar em casa. Por amor a este planeta que nos alberga sem pedir nada em volta, fiquem em casa. Não peço isto para que façam as vossas próprias deduções filosóficas ou contemplações de vida, mas para que tudo decorra de maneira fluida, para que a ciência decida quando é que isto vai acabar. Obviamente, há quem tenha de trabalhar e todos nós temos necessidades alimentares que nos dirigem aos supermercados; mas para quê sair sem verdadeira razão? Acho que as passeatas na praia podem aguardar mais uns meses e a corrida pelo parque pode ser substituída por alguns exercícios caseiros. E agora, criando um verdadeiro esboço de uma conclusão, deduzo que continuo todos os dias a pensar se o isolamento social nos afastou ou nos aproximou. Acho que a conversa de café que descrevi ao longo deste texto organiza alguns pensamentos que tive no tempo em que me permiti pensar no COVID-19 de forma minimamente egoísta, mas nunca será uma peça final da minha opinião completa. Por agora, só me resta desejar que esta pandemia acabe o mais rápido possível, para que finalmente repare no resultado final que todo este cenário teve na sociedade.

 

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