Beatriz Menino e David Carreira| ProFuturo


Reza a lenda que, por volta do séc. III, o imperador romano, Cláudio II, proibiu a celebração dos casamentos como modo de garantir que os jovens do seu império se focassem na guerra e na vida militar. Porém, um bispo, de nome Valentim, continuou, clandestinamente, a celebrar casamentos, tendo sido, por isso, preso e condenado à morte. Até à data da execução da pena, além de ter recebido inúmeras cartas anónimas que expressavam gratidão, apoio e admiração, o bispo recebeu a visita da filha do seu carcereiro (vigilante). A jovem rapariga, cega, assim que se aproximou dele, recuperou a visão, começando com este milagre uma nova história de amor que, como muitas histórias de amor, tem um fim trágico: neste caso, a morte, a 14 de fevereiro, de Valentim.
Mas o que terá esta história a ver com a nossa rúbrica? Dezoito século depois, por todo o mundo, continua a celebrar-se o dia 14 de fevereiro, vulgarmente conhecido por “Dia dos Namorados”. Contudo, o verdadeiro conceito de amor parece ter-se perdido ou, pelo menos, parece ser cada vez mais difícil de definir. Muitos associam esta decadência à “revolução tecnológica” sobre a qual temos vindo a falar. O que está, afinal, a tecnologia a fazer ao amor?
Nos dias de hoje, o amor parece ser algo muito mais banal… As cartas escritas com o maior cuidado e que demoravam dias a chegar, não se conseguindo sequer ter a certeza de que tivessem chegado, dão hoje lugar a mensagens instantâneas, recheadas de abreviaturas, sobre as quais o remetente tem a capacidade de acompanhar o “transporte” (saber quando foram entregues e mesmo quando foram lidas). Fotografias eram tiradas até com algum receio, pois o rolo apenas permitia tirar um reduzido número de fotografias e muitas delas ficavam “queimadas”, sendo que a primeira pessoa a poder vê-las era quem as revelava e, muitas vezes, não os próprios protagonistas das mesmas; nos dias de hoje, arriscamo-nos a dizer que, por dia, são tiradas centenas ou até mesmo milhares de fotos, maioritariamente, não para eternizar momentos especiais, mas para mostrar aos “seguidores” nas redes sociais.


Efetivamente, o conceito do Dia de São Valentim e do modo de expressão do amor têm vindo a alterar-se ao longo do tempo. Hoje parece ser mais importante mostrar o amor do que senti-lo, isto é, dá-se mais relevância às demonstrações materiais de amor, como presentes caros, fotos ou mensagens postadas nas redes sociais, ao invés de se “gastar” tempo com as pessoas de quem realmente se gosta – programar uma tarde juntos, ir ao encontro de alguém apenas para lhe dar um abraço ou um carinho, fazer por estar presente nos melhores e nos piores momentos, dividir lágrimas, multiplicar sorrisos¬, …
O Dia de São Valentim é, atualmente, mais “benéfico” para o comércio do que propriamente para os apaixonados. Neste dia, milhares de euros são gastos em viagens, relógios, joias, perfumes, ramos de flores, doces, … Segundo um estudo da Microsoft, referido numa notícia da TVI24, no ano de 2009, os portugueses gastaram cerca de 260 milhões de euros em presentes românticos. Nos dias que antecedem o Dia de São Valentim, as televisões são invadidas por publicidades de grandes marcas do mercado que anunciam “supostas” promoções e/ou criam novos produtos propositadamente para esta época, as floristas reforçam os seus stocks e os supermercados colocam numa zona estratégica produtos relacionados com esta data.
É certo que os utilizadores de redes sociais como o Tinder ou o Happn (aplicações que promovem encontros amorosos) ou mesmo de qualquer outra rede social correm inúmeros riscos, pois, infelizmente, nem todas as pessoas que se inscrevem nestas redes sociais têm como objetivo encontrar o amor, tendo, a maior parte das vezes, segundas intenções. Mas se por um lado a evolução da tecnologia tem prejudicado, em certos aspetos, o amor, por outro lado, tem permitido, a algumas pessoas, encontrarem a sua alma gémea e, a muitas outras, encurtar a distância física que existe entre elas e os seus entes queridos. Está à distância de um clique enviar a fotografia de um local que se visitou, de ouvir a voz da outra pessoa, através de um clip de voz ou de uma chamada, ou mesmo, ver e comunicar em tempo real.
Concluindo, como pudemos constatar, o amor tanto pode sair beneficiado como prejudicado com o desenvolvimento da tecnologia. Mas, na verdade, só sai prejudicado quem carece de informação em torno deste tema e quem não tem capacidade de fazer uma triagem daquilo que vê e se deixa facilmente influenciar pelo que a maioria faz. Tornar um dia numa data especial está nas mãos de cada um de nós, por isso apelamos aos nossos leitores que, não apenas no Dia de São Valentim mas também nos restantes dias do ano, façam diferente:
- em vez de uma mensagem, façam uma videochamada;
- em vez de um presente “típico”, criem algo original;
- aproveitem as capacidades fotográficas do vosso telemóvel para partilhar, com quem está longe, momentos especiais do vosso dia;
- surpreendam quem mais gostam com uma visita inesperada;
- sejam criativos e não tenham medo de expressar aquilo que sentem por quem vos rodeia, tendo sempre em conta que a pessoa de quem mais devem gostar é de vós próprios!

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