Beatriz Menino/David Carreira | ProFuturo


Tal como referimos no artigo anterior, estamos no limiar de uma nova revolução industrial – a revolução da automação. Esta é uma mudança a nível mundial, pelo que Portugal não foge à regra. O mercado laboral português é um dos mais sensíveis no que toca a esta questão da maquinação. Por um lado, Portugal é um país desenvolvido (PD), encontrando-se, tal como os outros PD, numa situação de decadência demográfica. Por outro lado, a isto acresce o baixo nível de qualificação dos trabalhadores portugueses.
Portugal enfrenta duas graves debilidades demográficas: a baixa natalidade e a classe laboral cada vez mais envelhecida. Num período de duas décadas, será possível prever que a população com mais de 80 anos igualará a que tem menos de 14 e que, em média, por cada dez portugueses que estejam em idade de trabalhar, oito não terão essa idade. Este envelhecimento da população não é sinónimo de algo necessariamente negativo, uma vez que, com o desenvolvimento da ciência, aumentará a proximidade com a tecnologia e a qualidade de vida; no entanto, esta situação, em conjunto com a revolução da automação, poder-se-á traduzir num problema conjunto, expresso, por exemplo, no tipo de contrato, que tende a ser temporário (as novas formas de trabalho conduzem à dispersão dos trabalhadores e à natureza online do seu trabalho), colocando os operários numa situação vulnerável. Por sua vez, este acontecimento conduz à perda dos laços sociais e influencia a decisão de constituir família.


O mercado de trabalho nacional atravessa um período relativamente positivo, com criação de emprego, diminuição do número de jovens desempregados, aumento da percentagem de licenciados que ocupam os postos de trabalho e diminuição da percentagem dos trabalhadores que apenas concluíram o primeiro ciclo de escolaridade. Porém, o emprego ainda não regressou aos valores pré-crise, como está a ser criado em áreas com baixo valor remunerado. A hotelaria e a restauração, setores nos quais cresceram mais postos de trabalho, têm o ordenado médio mais baixo da economia, sendo caracterizados pela baixa qualificação dos seus trabalhadores e precariedade dos vínculos de contrato. A tais fatores acrescenta-se, ainda, o facto de continuarem a existir excessivos contratos a prazo no nosso país, apresentando Portugal um dos valores mais elevados da Europa no que toca à percentagem de recibos verdes que representam o emprego (22%) e à percentagem de trabalhadores que não excederam o 9.º ano (43%).
Segundo dados do think tank Bruegel, em Portugal existem já quatro mil robots a operar em fábricas, tendendo este número a aumentar, prevendo-se que, num prazo de duas décadas, Portugal seja o segundo país da União Europeia e o primeiro da Zona Euro (58,9%) a correr o mais elevado risco de automação. É ainda de salientar o ponto de vista de dois entendidos na matéria: Sérgio do Monte Lee, partner da Deloitte Portugal, que afirma que são os trabalhos mais qualificados e, por sua vez, mais bem remunerados, que são os mais sujeitos à automação; segundo a mesma linha de ideias, Pedro Portugal, coordenador da conferência Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre futuro do trabalho, que defende que “os salários baixos dos portugueses são uma espécie de antídoto face à automação”, sendo o verdadeiro perigo os robots de outras nacionalidades que concorrem com os trabalhadores humanos portugueses.


Em suma, Portugal não só faz parte da revolução da tecnologia, como o baixo nível de qualificação dos trabalhadores, à qual se juntam os problemas demográficos, fazem do mercado laboral do nosso país um dos mais vulneráveis.

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