PROFUTURO |Beatriz Menino

“ProFuturo”, eis o nome da rúbrica que está de volta e celebra nesta edição o seu primeiro aniversário. Durante o ano anterior, o grande objetivo desta rúbrica passou por informar os jovens sobre o mercado de trabalho e a influência das novas tecnologias no mundo laboral. Foi, e continua a ser, um dos nossos objetivos, preparar a nossa geração pró futuro! E se é de futuro que aqui falamos, foi no passado dia 6 de outubro que os portugueses, maiores de 18 anos, tiveram a oportunidade de expressar o que querem para o futuro do seu país, foi dia de eleições legislativas. Portugueses estes que parecem ter vindo a afastar-se cada vez mais da política e do seu direito, mas também dever, de VOTAR. Portugueses estes que um dia seremos nós!
Nos últimos anos, muitos têm sido os especialistas que alertam para a distância existente entre os portugueses e a política. Esta situação torna-se ainda mais preocupante quando tomamos consciência de que este não é um problema dos jovens atuais, mas um problema que se tem vindo a agravar e a arrastar de geração em geração. A não participação em movimentos cívicos e o alienamento político são característicos não só dos jovens como também dos seus pais e avós. Talvez por isso, os especialistas não estranhem que apenas menos de um terço dos jovens portugueses diga ter simpatia por um partido político. Aliás, o facto de apenas 1% dos jovens entre os 15 e os 24, e 2,7% dos que têm até 34 anos, pertencerem a um partido, indica o quão grave é a situação. Marina Costa Lobo, investigadora que elaborou o estudo em conjunto com Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, aponta como outro dos problemas a imagem atual dos governantes - “Os sucessivos casos de corrupção noticiados nos media reforçam a ideia negativa que têm dos partidos políticos”, o que poderá explicar a insatisfação que os jovens cada vez mais revelam em relação à democracia. Por outro lado, apesar de “insatisfeitos”, segundo o mesmo estudo, mais de 57% dos que têm entre os 15 e os 24 anos não demonstram qualquer interesse no tema. Gutierrez-Rubi, que dirige a consultora de comunicação “Idiograma”, refere ainda que os jovens “não acreditam nos partidos e até os consideram parte do problema e não da solução”.
Estes valores explicam, possivelmente, os resultados das eleições, nomeadamente a avassaladora e triste percentagem de 51,43% de abstenção registada nestas eleições. Numa sondagem realizada pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) para o Expresso/SIC, perto da data da grande decisão, 13% dos portugueses, onde se destacam os mais jovens, ainda não tinham decidido se iam votar ou em quem iriam votar. Podem também verificar-se outros tipos de tendências, como o facto de as votações variarem por idade, notando-se diferenças mais significativas entre os “extremos”, os mais jovens e os mais velhos: em relação aos mais jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, onde há um maior número de indecisos (13%), verifica-se um empate entre PS e PSD, com 17% das intenções de voto, o BE surge em terceiro com 10%; por outro lado, na categoria das pessoas com mais de 65 anos, o PS garante a maioria absoluta, com 42% das intenções de voto, contra 25% do PSD.
É, por isso, mais que urgente impedir que as próximas gerações sejam “contaminadas” por este alienamento político, pois o futuro do país e do mundo está entregue, e gostaria de pensar que está bem entregue, à juventude e às novas gerações. É inevitável assumir que a política deve e tem que ser fomentada desde cedo, de forma atrativa, pelos principais intervenientes no crescimento e formação de um indivíduo: a família, a escola, as associações cívicas e desportivas e os media. Surgem, então, propostas de estratégias e ferramentas.
Foi já sugerido que as escolas podem incentivar o envolvimento político: indiretamente, através do ambiente escolar, ou diretamente, através da implementação de disciplinas ou módulos curriculares, não de forma a impingir conteúdo de forma compacta, mas de modo a que os jovens possam adquirir informação sobre o sistema político e desenvolver os seus hábitos de envolvimento e participação. É de salientar que algumas escolas já tentaram implementar estas estratégias.
Por outro lado, os especialistas referem que uma das soluções terá de passar, irremediavelmente, pela alteração do meio de comunicação utilizado pelos políticos, que deverá passar pelos meios digitais. Certo é que os jovens já estão a optar por outras formas de participação, como protestos e manifestos que nascem nas redes sociais, muitas vezes sem ligações a partidos.
Patrícia Tomás, autora de um trabalho sobre as novas formas de participação cívica dos jovens, confirma que a internet é o principal meio utilizado pelos jovens, não só de Portugal como do mundo, no que toca a participação cívica, nomeadamente na organização de protestos públicos e outros movimentos que se têm vindo a organizar nas redes sociais, tais como o caso dos “Indignados”, em Espanha, da “Geração à Rasca”, mais recentemente, dos diversos movimentos relacionados com a “Greve Mundial Climática Estudantil”. Em Portugal, pode ainda referir-se o caso da “Geração à Rasca” que, tendo começado apenas com quatro jovens, acabou com milhares de pessoas em protesto nas ruas, mobilizadas através da internet, ou, embora não tenha tido tamanhas dimensões, o movimento “Mãos à Obra”, iniciado e organizado nas redes sociais, que levou centenas de pessoas a limpar as ruas e praias do país. As petições parecem ser também do agrado dos jovens. Num inquérito realizado por Mariana Costa Lobo, verificou-se que a forma mais usada pelos jovens entre os 15 e os 24 anos para exprimir uma opinião foi o de “assinar uma petição”, 6,6% dos entrevistados já o tinham feito.
Alguns jovens têm também demonstrado a sua preocupação face ao alheamento dos restantes, tendo já criado projetos à medida das necessidades das gerações digitais. Bernardo Branco Gonçalves, 25 anos, lançou uma aplicação digital inovadora, Mypolis, que permite aos jovens conhecer e votar em propostas políticas das zonas onde vivem, lançar as suas próprias ideias, manifestar as suas preocupações e dialogar diretamente com os governantes, desde que estes estejam, claro, inscritos na aplicação. Por cada votação proposta, ou participação, há pontos e níveis que se podem atingir. Em alguns casos poderão existir recompensas, como bilhetes para espetáculos ou produtos do comércio local. Mais recentemente, também Nuno Can, apenas com 18 anos, confrontado com a elevada taxa de abstenção e com o facto de considerar que a educação foi esquecida nesta campanha eleitoral, desenvolveu “Falta de Educação”, uma plataforma digital onde reuniu todas as propostas dos sete partidos com assento parlamentar em matéria de educação, tentando contribuir para trazer a debate uma área que considera ter estado ausente da campanha. O site permite visualizar as propostas dos partidos lado a lado e comparar as medidas que cada um deles propõe implementar em áreas como a escola pública, o ensino superior, a habitação jovem ou o apoio à natalidade.
Não nos esqueçamos também do projeto “Parlamento dos Jovens”, onde os jovens têm a oportunidade de apresentar propostas relacionadas com um tema definido pela Assembleia da República e, quem sabe, participar num debate parlamentar com jovens de todo o país, aprender como se organizam eleições, o que significa o mandato parlamentar, como argumentar e defender as suas ideias e, acima de tudo, a importância de ouvir o outro e respeitar todas as opiniões.
Resta-nos acreditar que, com a aplicação destas estratégias, nas próximas eleições possamos ter mais jovens, não só a votar, como a dar voz ao nosso país. Atualmente, a média das idades dos deputados eleitos para a Assembleia da República ronda os 48 anos, sendo apenas dez os deputados com idades entre os 25 e os 30 anos (e cinco com essa idade). Miguel Costa Matos, membro do Partido Socialista (PS), vai estrear-se na Assembleia na República, roubando o título de “benjamim” que durante quatro anos pertenceu a Luís Monteiro (26 anos), representante do Bloco de Esquerda (BE). Com a mesma idade, em representação do PS, a estreante Joana Pereira, que se faz acompanhar por outro estreante, Alexandre Poço (27 anos) do Partido Social Democrata (PSD). Almada Rivera (27 anos) e Duarte Alves (28 anos), ambos da Coligação Democrática Unitária (CDU), já são “repetentes”. Hugo Carvalho e Sofia Matos (28 anos) são outros dois estreantes na bancada do PSD no parlamento. Isabel Pires (28 anos) do BE integra também esta lista. Olavo Câmara (29 anos), do PS, encerra este grupo de dez jovens deputados, estreando-se também este ano. Na “categoria dos sub-30”, o PSD é ainda representado por Nuno André Neves e Margarida Balseiro Lopes, e o PS por Maria Begonha, Filipe Pacheco e Tiago Estevão Martins.
Tu, que és jovem, que és criatividade e um sem fim de capacidades, és o futuro! Cumpre os teus deveres e usufrui dos teus direitos!

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