P&V

Nesta edição do P&V, iniciamos a rubrica Voltei à Escola. Este é um espaço no qual publicaremos fragmentos, selecionados pelos autores, de Portefólios Reflexivos de Aprendizagens, o documento base da demonstração de competências dos adultos que procuram a obtenção de um diploma escolar através do processo RVCC (Reconhecimento, Validação e Demonstração de Competências).
Este processo, iniciado em Portugal no ano 2002 e alargado ao nível secundário em 2005/6, constitui a grande aposta da política educativa de formação de adultos no século XXI.
A Calazans Duarte criou, em 2005, um Centro Novas Oportunidades, que funcionou ininterruptamente até abril de 2013. Várias centenas de homens e mulheres, que, por razões várias, abandonaram a escola cedo demais, obtiveram no CNO um diploma escolar de 6º, 9º ou 12º ano.

Entre 2013 e 2017, período em que os CNO foram substituídos por CQEP’s, estes não funcionaram na Calazans Duarte. O empenho da direção e o reconhecimento institucional do nosso trabalho permitiram reabrir o centro, agora designado QUALIFICA, que continua a ser procurado por adultos não apenas para serem certificados, mas, cada vez mais, para aqui atualizarem os seus conhecimentos e melhorarem as suas competências através das ofertas formativas disponíveis.
Nuno Bernardes é um desses adultos que durante 8 meses frequentou ações de formação e desenvolveu o seu Portefólio. Apresentou-se a júri em julho de 2018, obtendo o certificado de ensino secundário.
Das 63 páginas escritas, Nuno Bernardes selecionou, para publicação, os excertos que aqui pode ler, demonstrando eloquentemente que um Portefólio de RVCC é sobretudo um documento reflexivo sobre as aprendizagens adquiridas ao longo da vida, em diferentes contextos.

 

A minha profissão na indústria de moldes

Nuno Bernardes


Durante toda a nossa vida estamos em aprendizagem; é neste processo que as nossas competências, habilidades, conhecimentos e valores são adquiridos. Nunca é tarde demais para finalizar algo que deixámos por concluir há alguns anos atrás. Durante a elaboração deste processo de RVCC e deste PRA (Portefólio Reflexivo de Aprendizagens) em concreto, acabei por adquirir ainda mais conhecimentos. Foi muito gratificante e a vontade de seguir os estudos voltou… A abordagem, neste PRA, de variados assuntos, foi empolgante, tendo manifestando muito interesse no desenvolvimento dos mesmos, sobre os quais aprofundei ainda mais o meu conhecimento através de pesquisas na internet, assim como relembrei etapas importantes da minha vida. Durante este processo fiz formação em Qualidade e Organização da Produção e também formação complementar externa de Excel, uma ferramenta que utilizo todos os dias no meu trabalho. Após a conclusão do processo de RVCC quero continuar a aprender mais, compreender mais, evoluir sempre. Quero ter a possibilidade de sonhar mais alto e alcançar os meus objetivos com empenho, determinação e competência.


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Do pouco tempo que frequentei o 10º ano, recordo-me principalmente de uma aula muito especial, uma aula dada por um professor cego. Admirei imenso a forma como dava as aulas, como detetava movimentos estranhos em seu redor; a sua apurada audição não deixava que lhe escapasse nada. Cientificamente está provado que as pessoas que nascem cegas têm a audição muito mais desenvolvida do que uma pessoa normal; o mesmo já não acontece a pessoas que perderam a visão depois de nascer; estas últimas apresentam o nível de audição parecido com uma pessoa normal. A minha admiração e enorme respeito por aquele professor eram grandes, vi nele um homem de grande luta e determinação pelo facto de se encontrar sem visão e dar aulas sem qualquer tipo de limitação. O ser humano só tem limitações no seu corpo, a sua mente não tem limitações, como eu li numa frase proferida por Mahatma Gandhi “Estou convencido das minhas próprias limitações - e esta convicção é minha força."
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A empresa onde trabalho tem uma organização expressa no organograma que apresento. Nele posso verificar os diferentes níveis hierárquicos dos colaboradores, é uma forma simples de visualizar a organização da estrutura da empresa a fim de saber quem deve responder a quem na organização e à estrutura dos vários setores. É importante sabermos o nosso lugar na estrutura de uma empresa para que assim possamos desempenhar a nossa função o mais eficazmente possível sem colocarmos outros departamentos em causa. (…)
Nem sempre é fácil trabalhar em equipa. Por vezes, os conflitos de opiniões ou a incapacidade de partilhar ideias podem diminuir o desempenho do grupo. No meu trabalho tento ser sempre dar o melhor apoio aos meus colegas de trabalho assim como participo sempre nas trocas de ideias para que possamos chegar ao melhor resultado.
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Nesta indústria dos plásticos podemos dividi-los em 3 tipos: os termoplásticos que são materiais que podem ser aquecidos e moldados; quando reaquecidos, estes ficam moles e podem ser moldados na forma que quisermos. Este ciclo reversível de amolecimento e endurecimento é o que permite a reciclagem, uma vez que o processo pode ser repetido numerosas vezes. A maioria dos plásticos são termoplásticos; por exemplo: PC-Policarbonato, PU-Poliuretano, PVC-Policloreto de vinilo ou cloreto de polivinil, PS-Poliestireno, PP – Polipropileno. O segundo tipo são os termorrígidos podem ser moldados uma única vez. Depois de moldados, o reaquecimento poderá provocar a decomposição do material, e não a sua fusão, por este motivo, a reciclagem é muito difícil. Quando comparados aos termoplásticos, estes apresentam uma maior estabilidade dimensional, mantêm as suas propriedades mecânicas numa mais vasta faixa de temperaturas, são mais resistentes aos solventes e muito convenientes para usos externos. Exemplos de plásticos termorrígidos são: PU- Poliuretano, resinas sintéticas, resina epóxi e as resinas fenólicas que podem ser encontradas nas bolas de snooker. O terceiro são os elastómeros, que são polímeros que apresentam uma propriedade “elástica”, suportam grandes deformações antes da sua rotura, têm a possibilidade de sofrer grandes deformações por ação de uma força, recuperando a sua forma original quando essa mesma força é retirada.
Exemplos de plásticos elastómeros são; os pneus dos carros, pneus das bicicletas, câmaras de ar das mesmas, solas das sapatilhas, etc.
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Durante estes meses de árduo trabalho na elaboração do PRA, adquiri muito mais conhecimento além daquele que já tinha, fruto da experiência adquirida ao longo da minha vida pessoal e profissional. De início, as minhas expetativas eram de não conseguir abordar e exprimir as minhas competências de forma a que se compreendessem; a forma como as registei por escrito neste PRA fez-me voltar a querer fazer mais e melhor e por isso estou a ponderar voltar aos estudos.
Após o término deste processo, sinto que não terminei algo, mas sim que iniciei uma nova etapa da minha vida, na qual uma longa estrada nasceu perante os meus olhos pronta para ser percorrida e onde os desafios são uma constante. (…)

 

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