Isilda Silva

Isto é tudo muito bonito, mas no final temos os exames nacionais!

Esta e outras frases semelhantes têm feito eco junto dos professores que, em muitos casos, percecionam as mudanças decorrentes do DL 55/2018 de 6 de julho sobre Autonomia e Flexibilidade Curricular e do DL 54/2018 de 6 de julho sobre Educação Inclusiva como mais uma moda que tenderá a passar como muitas outras antes.
A questão é perceber, portanto, se se trata ou não de mais uma moda. Aqueles que pensam que é mais uma moda alegam que as medidas previstas não são consistentes entre si, nem prefiguram uma alteração estrutural, quer do modelo de ensino e de aprendizagem, quer da estrutura dos exames nacionais. Já os que pensam que não se trata de mais uma moda procuram o sentido estruturante deste ‘novo modelo’ de ensino e de aprendizagem e sinais de mudança nos exames nacionais dos últimos anos.
Vamos a factos. A análise detalhada destes normativos legais evidenciam uma clara interconexão entre si e com outros documentos produzidos, particularmente o Perfil dos Alunos à saída da Escolaridade Obrigatória e as Aprendizagens Essenciais; este facto faz antever que a densidade normativa deste conjunto de documentos, prefigura, de facto, uma mudança estrutural no sistema de ensino-aprendizagem. Aqueles que procuram o sentido estruturante deste novo modelo, encontram aqui uma zona de conforto. Resta saber se esta ‘mudança estrutural’ tem ou não reflexos na conceção dos exames nacionais. A questão é sensível, tanto quanto o desalento de muitos professores face aos resultados dos seus alunos e ao esforço despendido durante o ano letivo.
Na verdade, os últimos relatórios mostram que, dos 3 tipos de itens, os alunos apenas obtêm bons resultados nos itens de conteúdo declarativo que apelam à memorização; já nos itens de interpretação/raciocínio e de aplicação, os resultados são muito inferiores.
Por outro lado, sabe-se que, em termos nacionais, apenas um terço dos alunos do ensino secundário faz exames nacionais, uma vez que cerca de 50% frequentam cursos profissionais ou ensino artístico e a maioria opta por não fazer exames e dos restantes, cerca de 30% têm negativa na avaliação final interna ou reprovam nos exames. Seguindo esta lógica, o argumento dos exames como inibidor de mudanças nas práticas pedagógicas parece não fazer sentido.
Porque se tratar de uma questão que vale a pena ser refletida e apropriada, deixo um excerto do Relatório Nacional 2016-2016 publicado pelo IAVE e refletir sobre o seu último parágrafo:
« (…) Elevar a qualidade da aprendizagem, e assim esperar uma melhoria sustentada dos resultados dos exames, parece implicar uma mudança de paradigma no que se refere à forma como socialmente se perceciona, por um lado, a articulação entre o ensino, a aprendizagem e a avaliação e, por outro, o papel da análise e da partilha de resultados. No que se refere em particular ao papel dos exames, parece justificar-se uma abordagem alternativa: em vez de treinar para os testes será preferível trabalhar com os testes (utilizando os respetivos resultados) para promover a melhoria da aprendizagem.»
Referência:
http://iave.pt/index.php/avaliacao-de-alunos/relatorios/exames-finais-nacionais

1.Representante do CFAE-Leirimar para a Autonomia e Flexibilidade Curricular

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