Rubrica: Histórias Perdidas… |Santiago Pedrosa, aluno (10º C) e investigador autodidata

Histórias Perdidas… O Monarca Que Não Nasceu Rei

No dia 1 de dezembro, comemorámos o ressurgimento da nossa nação com o fim do domínio espanhol. Há 383 anos que o povo aclamava rei o Duque de Bragança e assim começava o processo da luta pela restauração da independência em Portugal. Como já ouvimos falar deste esforço nacional, vou realçar algumas curiosidades antes e depois do fatídico mês de dezembro de 1640.
Na véspera dos acontecimentos, D. Filipa de Vilhena, Marquesa de Atouguia, então viúva de D. Luís de Ataíde, conde de Atouguia, entregou as armas aos seus filhos, incentivando-os a ir combater e dizendo que não voltassem enquanto não conquistassem os louros da vitória. Esta grande patriota e entusiasta da causa da revolução foi camareira-mor e aia do futuro D. Afonso VI. Faleceu a 1 de abril de 1651 e foi sepultada na Igreja de Santos-o-Velho. Após 150 anos da sua morte, em 1801, Vieira Portuense (Francisco Vieira) pintou um quadro, um dos seus principais trabalhos, e imortalizou este momento da nossa história.
Recuando mais no tempo, em 1604, nasce El-Rei D. João IV. Os registos da realeza portuguesa eram lavrados no Cartório Real, mas a família na qual D. João nasceu não era propriamente a Família Real. Por este motivo, recorri ao excelente trabalho do genealogista José Luís Espada-Feyo, que encontrou o registo de nascimento do nosso rei, no meio dos registos paroquiais (onde os do povo eram lavrados) da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Ao lado do registo de batismo encontra-se averbado: “este é o termo do Sereníssimo Rei D. João, o 4.º de gloriosa memória”
Nos anos seguintes a 1640, o povo procurou legitimar o soberano. Um ano depois, surgiram as primeiras árvores genealógicas do novo rei. Nesta altura, as genealogias eram verdadeiras árvores, a de D. João ostentando o conde D. Henrique de Borgonha, pai de D. Afonso Henriques, como tronco. Deste tronco, afloram vários ramos, os descendentes, chegando a vários nomes, incluindo o de D. João IV e do seu primo Filipe III de Portugal (IV de Espanha).
Em dezembro temos também outro feriado, dia 8, o da Imaculada Conceição. Este feriado religioso, de grande importância para a igreja católica, tem origem nestes acontecimentos. Nas cortes de Lisboa, D. João IV declarou que, a partir desse momento, Nossa Senhora da Conceição seria a padroeira do Reino de Portugal, como tributo e reconhecimento pelos sucessos militares que permitiram a restauração da independência nacional. Aqui nasce também uma característica que faz a Coroa Portuguesa diferente das demais europeias. Até ao fim da monarquia portuguesa, nenhum rei posterior foi coroado. Essa cerimónia foi substituída por uma simples “Aclamação”. Ao declarar Nossa Senhora da Conceição padroeira de Portugal, D. João considerou-a “A verdadeira rainha de Portugal”, mostrando assim a sua devoção.

Nesta rubrica sobre o 1 de dezembro, tentei explorar os episódios marcantes antes e depois de dezembro de 1640, desde o apoio corajoso de D. Filipa de Vilhena até às transformações genealógicas da família real, e assim trazer um retrato mais profundo do nosso passado.
Embora as histórias perdidas dos meus (e vossos) antepassados permaneçam obscuras devido à escassez de documentos, essa lacuna motivou-me a ter um olhar mais profundo para este feriado significativo.
Assim, deixo-vos com fragmentos desta vasta narrativa de ressurgimento, ciente de que, dentro das limitações dos documentos, estou a tentar dar vida às histórias perdidas que moldaram a pátria que hoje chamamos de nossa.

(foto disponível em https://ensina.rtp.pt/)

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