Vozes do Poente |Beatriz Silva, formanda (Curso EFA)
O Meu Herói
Numa bela aldeia do distrito de Leiria chamada, Amor, nasceu no ano de 1972 um bebé cujo nome era Jorge. Era moreno, olhos escuros e boca carnuda e um sorriso de encantar qualquer um. Nasceu numa família de poucas possibilidades, mas isso nunca o impediu de nada, como mais à frente iremos ver.
Tinha duas irmãs mais novas, a Anabela e a Licínia, que eram sem dúvida o seu maior orgulho.
A infância do Jorge nunca foi muito fácil, pois o seu pai era alcoólico e a sua mãe não trabalhava. Assim, muito do sustento daquela casa surgiu do pequeno Jorge, que começou a trabalhar muito novo.
Ele sempre teve os seus objetivos bem traçados e desde pequeno começou a lutar por eles, indo à escola e trabalhando ao mesmo tempo.
Chegou à altura de as suas irmãs irem para a escola, mas infelizmente os seus pais não tinham como pagar. Então, o Jorge, como apenas queria o melhor para as suas irmãs, trabalhou desalmadamente até conseguir pagar a escola de ambas, o que o deixou muito orgulhoso e satisfeito.
Trabalhou toda a sua infância até que aos dezoito anos foi chamado para ir à tropa. Aquela oportunidade pareceu-lhe perfeita e ele aceitou. Mal ele sabia que isso iria mudar a sua vida.
Uma semana antes de entrar para a tropa, decidiu deslocar-se à Marinha Grande com uns amigos para beber café, até que, nesse sítio, trocou olhares com uma bela rapariga de estatura média, cabelos castanhos, olhos azuis e pele clara, cujo nome era Sofia. Nesse mesmo instante, soube que teria de a conhecer.
Nesse mesmo dia, ficaram a tarde toda a falar. Ele sabia que teria de lá voltar para estar com ela. Assim o fez todos os dias antes de ir para a tropa.
Mas, um dia antes de entrar na tropa, pediu-a em namoro. Ela aceitou.
Todos os dias em que esteve longe, a Sofia recebia uma carta de amor do Jorge em que estava sempre desenhada uma rosa no exterior e um lindo poema no interior.
Passaram-se meses até que ele concluiu a recruta e decidiu que não iria continuar, pois queria ir viver com a Sofia. Só que o pai da Sofia não sabia desta tão bonita relação, por isso, o Jorge viveu escondido com a ajuda das duas irmãs da Sofia e da sua mãe durante umas semanas, até que se sentiram obrigados a contar tudo o que se estava a passar.
Para a época, o pai da Sofia era muito rígido, então o medo da reação do pai dela era grande, mas, para surpresa deles, ele aceitou bem e gostou imenso de Jorge.
Daí para a frente, Jorge e Sofia viveram uma incrível vida juntos, tendo imensos momentos e lembranças para contar, até que se decidiram casar no dia 07/08/1999, que foi a maior das suas alegrias, como pensavam eles.
Passou-se algum tempo, até que decidiram que queriam ter um filho, mas não parecia ser essa a vontade de Deus, pois, apesar de imensas tentativas, consultas e tratamentos, nada parecia funcionar. Até que no dia em que eles iriam ao consultório cancelar o tratamento, o teste finalmente deu positivo e, passados oito meses, após essa data, no dia 23/08/2005, nasceu a Beatriz, nome já bem escolhido por Sofia, que sempre quis ter uma menina.
Foi aí que Sofia viu Jorge chorar pela primeira vez.
Anos se passaram e Jorge e Beatriz eram inseparáveis. Ela era completamente a menina do papá, apesar do mesmo trabalhar imenso como chefe de fábrica e operário numa fábrica de vidro na Marinha Grande e passar pouco tempo em casa.
A família era o bem mais importante para Jorge, fazia de tudo por ela, mesmo que isso implicasse o seu bem-estar ou saúde.
Infelizmente, aos 49 anos, Jorge sofreu uma morte súbita no meio do seu turno de trabalho, mas deixou uma incrível história de vida, uma família linda e orgulhosa e uma grande lição de vida.
Dou por terminado este conto em que contei um pouco da história do meu herói, que era o meu pai, Jorge Silva, e que levo até hoje como maior orgulho e exemplo de vida!