VITA BREVIS, ARS LONGA |Rodrigo Pisco Claro

O Outono

Saio à rua e sinto o ar fresco que, pela primeira vez em meses, parece entranhar-se pelos meus ossos adentro. O retumbante estalar das folhas caídas contrasta com o tímido bater da chuva, e a terra húmida emana um aroma cativante. Os tons quentes que agora dominam a paisagem fundem-se com o pardo céu e tudo parece estagnar. Instala-se o Outono...!
Numa época muitas vezes reduzida ao decaimento, à monotonia e à perda da vitalidade veranil, eu vejo uma beleza insólita que me inspira a refletir. A serenidade que prevalece esvazia-me a mente, e, numa expiração, todos os meus pensamentos parecem dissipar-se. Neste estado de quietude, torno-me mais consciente, e consigo apreciar a metamorfose da estação. Conformo-me à mudança, à caducidade e à finda, e todas as consternações se varrem com o vento.
Livre das preocupações de outrora, dou por mim a encarar o mundo de forma diferente. Apercebo-me do quão belas são as mais simples vertentes da nossa existência: aquecer a alma com uma chávena de chá, fitar as folhas que caem através da janela, escutar o despreocupado ronronar de um gato...
Sinto que nasce um novo eu, mais leve e desafogado, e que há espaço para recomeços. Entendo em mim um desejo de mudança, de renovação e o meu espírito enche-se de motivação. Tenho vontade de explorar, de sentir e de viver.

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