Notícias | Jorge Carreira Alves


Alice, agora e sempre, exemplo
No dia 25 de fevereiro, naquele sábado invernoso, húmido e frio, no Sport Operário Marinhense, muitas pessoas (colegas e amigos) que quase lotavam uma das salas dessa coletividade tiveram o privilégio de assistir à apresentação de um livro sublime de uma das pessoas mais íntegras e mais generosas que tive o privilégio de conhecer e com quem tive o supremo gozo de compartilhar ideias e alguns projetos. Contudo, mais do que a apresentação de um livro, assistimos ali à entrega completa de uma vida, a reafirmação tantas vezes repetida de que aquela existência de mulher lutadora por causas que muitos julgariam perdidas só teria sentido na partilha das suas emoções, das suas aprendizagens, de um saber de muitas experiências feito e cinzelado, quantas vezes muito dolorosamente, em vivências de muito sofrimento, mas também e sobretudo de muita tenacidade.
Se aquele momento de merecida homenagem a quem tanto fez pela nossa escola, pela nossa cidade e por cada um de nós foi mais que merecido e sincero, esta entrega e partilha de vida fez-nos sentir mais uma vez imensamente humildes e pequenos perante a grandeza de tamanho exemplo, perante aquela resiliência e lucidez, perante aquele terrível combate entre a revolta de ter que viver com uma doença tão incapacitante, que a deixa tão indefesa e limitada, e a vontade indomável de afirmar que, apesar de tudo, ela está viva e capaz de nos iluminar com o seu saber de grande mestra, continuando a reafirmar, como o fez durante toda a sua vida, que, enquanto houver um fio de lucidez e uma réstia de vontade é possível voar como os pássaros, é possível sonhar como os loucos, é possível vencer castelos de vento e conquistar as utopias, é possível ultrapassar preconceitos e derrubar censuras castradoras.
Nesta sessão de grandes e profundas emoções, se o filho Nuno recordou o papel de mãe e o exemplo que esta extraordinária mulher lhe transmitiu, se o seu Professor, José D’Encarnação, nos falou nas cumplicidades vividas por uma aluna curiosa e desafiante, com o seu espírito rebelde e transgressor, se a amiga e colega, Margarida Font, nos recordou os momentos dos grandes debates, das acaloradas trocas de ideias, dos projetos escolares, dos alegres convívios, se a amiga, Judite, lembrou uma vida compartilhada em longos anos de caminhada, se o Diretor do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, Cesário Silva, realçou o seu papel integrador, na receção e acolhimento de muitos cidadãos estrangeiros, na valorização das vidas daqueles que, em adultos, procuram a escola para se sentirem mais realizados, eu quero relembrar a troca e a partilha das ideias, os textos que dávamos a ler um ao outro, desde a esfuziante visita a Nova Iorque à contemplação da vastidão do mar, quando subiu ao farol de S. Pedro de Moel, e em tantas outras vivências que compartilhávamos. Tudo servia para nós viajarmos e sonharmos, o que com ela tinha sempre um outro sabor e outro significado, porquanto, Alice vivia e vive toda a sua vida com paixão, com a paixão de quem não desaprendeu de sonhar, com a paixão de quem sente que a sua vida só tem sentido com os outros. Por outro lado, no Centro Qualifica da ESEACD, onde ela pôs um cunho indelével que ainda hoje marca o modo como se trabalha na equipa deste centro, ensinou-nos a valorizar cada ínfimo pormenor e cada momento das histórias de vida dos nossos candidatos e dos nossos formandos, contribuindo para que cada adulto se sentisse verdadeiramente recompensado pelas suas próprias aprendizagens e com cada uma das suas experiências.
Por isso e porque mais uma vez nos proporcionaste momentos de enorme emoção e partilha, como diria o nosso amigo Chico: “Foi bonita a tua festa, pá”! foi bonita por podermos compartilhar toda aquela gratidão, toda a sincera amizade que tu semeaste, todas as cumplicidades pelas quais e com as quais viveste.

Obrigado, amiga Alice!
Estamos aqui para continuarmos nossas viagens e para, quem sabe, retomarmos o voo da passarola de Baltasar, Blimunda e Bartolomeu, quando a reencontrarmos em qualquer serra perdida deste nosso mundo.

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