A Propósito de …. | Jorge Carreira Alves


No momento em que se “comemora” o 1º aniversário do suposto início da guerra na Ucrânia, assistimos a uma romaria de dirigentes mundiais, com palavras muito belas de grande solidariedade para com o povo ucraniano, que se traduz apenas em promessas de envio de armamento, que vai alimentar de modo acelerado a lucrativa indústria bélica ocidental, não se vislumbrando qualquer investimento credível e concreto em ações de ajuda a quem mais necessita e está a sofrer verdadeiramente com as privações de uma guerra que nunca terão querido. Por outro lado, toda esta solidariedade com a Ucrânia, que em muitos de nós será verdadeiramente genuína, faz-me questionar onde é que estaria este mesmo espírito solidário, quando a guerra era (e ainda é) na Síria, na Etiópia, no Iémen, na Palestina, ou em relação a outras guerras esquecidas em África e na Ásia? Será porque desta vez se passa na Europa? Claro, assim será. Então, onde é que estava a nossa solidariedade e a nossa compaixão, quando essa guerra se deu na antiga Jugoslávia, quando aviões da Nato bombardearam bairros civis e vieram justificar-se com “danos colaterais? O que dizer da destruição de um país com uma cultura milenar, quando se fez a guerra no Iraque, contra um ditador, igual a muitos outros ditadores que suportamos e apoiamos como amigos? O que dizer do que se fez, quando, após vinte anos de guerra destruidora, deixámos ao abandono um país, agora sujeito à maior barbaridade, onde as mulheres são escravizadas e submetidas à condição de objetos, e os pobres são completamente esquecidos, como sucedeu no Afeganistão? Os “crimes de guerra” não são cometidos só por uma das partes beligerantes; os crimes de guerra existem em sempre que se faz a guerra, em todas as guerras, em todos os países com todas as motivações e sempre com as mesmas estúpidas justificações.

A guerra na Ucrânia não começou a 24 de fevereiro de 2023, como os meios de comunicação ocidentais nos querem fazer crer; esta guerra iniciou-se ainda antes de 2014 e tem origens muito anteriores, quando povos foram deslocados de suas terras, quando fronteiras foram definidas sem que se tivesse consideração pelos povos que habitavam esses territórios, quando uns quiseram oprimir os outros… esta guerra, agora bem visível, é apenas a sequência de muitas questões que os dirigentes das diversas potências que dominam o mundo nunca quiseram resolver. Não se pense que eu, por estar a colocar estas questões, nutro qualquer simpatia pelo déspota que dirige a Federação Russa. Contudo, tenho igual antipatia por quem, apresentando-se como arauto da paz, está envolvido até aos cabelos no negócio assassino do armamento. Gostaria apenas que, ao pensarmos neste ano de guerra em que estamos declarada e abertamente envolvidos, e pela qual estamos a sofrer privações, com a inflação especulativa, com a carência de muitos bens e com uma informação manipulada por todos os lados, tanto no ocidente como pelo lado russo, pudéssemos pensar por nossas cabeças e aprendêssemos a respeitar quem questiona, quem pensa de maneira diferente e terá razões tão válidas como as nossas, para que, com a máxima lucidez e fundamentação, criemos pensamentos próprios, com o verdadeiro sentido da solidariedade entre todos os povos e o desejo sincero da paz mundial. Vale a pena não desistir e continuar a lutar pelas grandes causas da solidariedade e da paz.
VIVA A PAZ! MORTE À GUERRA!

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