Eu vim de longe. | Alexandrina Secrieru


Olá, eu chamo-me Alexandrina e sou uma menina vinda de longe, mais precisamente, da Moldávia. A pergunta mais frequente que eu tenho ouvido cá em Portugal é “Que país é esse?” Para que vocês, leitores, não tenham dúvidas, digo-vos: o meu país faz fronteira com a Roménia e a Ucrânia, localiza-se no meio destes dois países. Eu nasci numa cidade pequena ao lado da capital da Moldávia, Ialoveni, que só há um ano ou dois foi adicionada ao googlemaps. Foi aí que passei mais de metade da minha vida, mais precisamente 13 anos. Eu tinha, e continuo a ter, uma família muito grande, sendo a família materna a mais numerosa. Para perceberem, somente o meu avô tinha 11 irmãos, só 5 estão vivos, ele teve 5 filhos, um dos quais é a minha mãe. Quando havia alguma festa, era preciso um lugar muito grande para podermos caber todos. Felizmente, quando era mais novo, o meu avô construiu uma casa grande onde nos podíamos juntar todos. Somos uma família numerosa, somos muitos e muito unidos, cresci sempre a ver todos a ajudarem-se uns aos outros. Infelizmente, a minha mãe não teve tanta sorte no amor como os meus avós, já que o meu pai biológico a deixou sozinha quando eu e a minha irmã tínhamos 1 e 2 anos. Graças ao meu avô, não fomos viver na rua, pois deu-nos uma casa onde pudemos viver, também construída por ele. Foi difícil, mas a minha mãe fazia tudo para que não nos faltasse nada de essencial a mim e à minha irmã, comida e roupas. E esta foi a razão pela qual eu sofri bullying na escola, só eu. A minha irmã teve mais sorte, visto que entrou numa turma com pessoas que tinham dificuldades semelhantes às nossas e também ela era mais extrovertida do que eu. A minha turma era diferente. Pelo facto de eu usar roupas iguais quase todos os dias, que não estavam sujas, pois a minha mãe lavava as roupas todos os dias, eu ouvia palavras feias contra mim. Muitas vezes batiam-me, às vezes, podia ser só um empurrão com pouca força, mas era suficiente para eu cair. Isto para mim foi um inferno. Quando eu contava à minha mãe, ela dizia-me para eu responder da mesma forma ou até para lhes bater também, para que isto não se repetisse, mas eu não queria, pois isso poderia prejudicar as minhas notas. Os professores não faziam nada, não davam importância ao caso, na sua opinião “Eles são só crianças”.

O problema que nos fez mudar para Portugal foi haver muita falta de recursos na Moldávia, o que tornava a vida difícil. Em Portugal, a minha mãe conseguiria encontrar um trabalho melhor e mais bem remunerado. Já cá vivia há muito tempo a minha tia com a sua família e, deste modo, quando chegámos, nos primeiros tempos, não tivemos preocupação com a residência, pois ficámos com eles até conseguirmos arranjar uma casa própria. Para ser sincera, eu tinha muito medo de conhecer a minha turma nova, até porque eu ainda não sabia falar português. Nunca esquecerei esse dia! A minha DT levou-me até à sala onde a minha nova turma estava a ter aulas, era aula de matemática. A professora apresentou-me à turma, eu sentei-me num lugar que estava livre e a professora foi-se embora. Durante a aula não aconteceu nada de interessante, correu tudo normalmente. Quando tocou para o intervalo, eu reparei que toda a gente se estava a aproximar de mim. Nesse momento, apercebi-me que estava a entrar em pânico, porque eu não sabia o que eles queriam de mim. Já todos à minha volta, houve uma rapariga que se aproximou mais e estendeu-me o telemóvel, com o tradutor, onde estava escrito «Benvinda a Portugal. Queres ser a nossa amiga? Se não entendes o português, podemos falar por aqui.» Fiquei um pouco confusa, pois não sabia se podia confiar logo numa pessoa desconhecida, mas arrisquei e fui com eles. Os colegas mostraram-me a escola e nos intervalos seguintes estivemos a jogar basket. Nunca imaginei que havia de chegar um dia em que iria desejar tanto voltar à escola no dia seguinte! Depois de aprender a falar e a compreender português, passei a ser mais extrovertida, já não tinha medo de falar com os outros. Pela primeira vez na vida consegui fazer amigos verdadeiros. Mas a melhor coisa que me aconteceu foi o facto de melhorar o meu relacionamento com a minha irmã. Sabem como se costuma dizer «um problema em comum une». Imaginem só, eu vivia com a minha irmã há 12 anos, mas só aqui em Portugal é que me apercebi que nós tínhamos tantas coisas em comum. Agora ela é a minha melhor amiga. Eu continuo a manter ligação com os meus familiares da Moldávia. Falamos todos os dias pelo Watsapp ou Viber e, no verão, costumamos voltar para a Moldávia, para passar um mês ou dois, para nos reencontrarmos e matarmos saudades da família. Já estou em Portugal há 5 anos e, neste preciso momento, posso dizer que sou feliz. Estou contente com a minha vida agora e penso que a ideia de vir viver para Portugal foi a melhor de todas e acho que nunca vou pensar de outra maneira.

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