A Minha Voz Conta! | Márcio Coelho

Vim para o processo do RVCC para conseguir concluir o meu 12º ano, visto que a empresa onde trabalho atualmente incentiva a formação para poder subir na carreira. Dentro da empresa necessitamos de formações, pedindo a todos que tenham, no mínimo, o 12º ano para as poderem frequentar, daí a minha necessidade deste processo. Refletindo sobre o meu percurso escolar, no terceiro ciclo optei por um curso de serralharia mecânica e comecei a gostar da escola e das aulas, com o grande professor Cesário, o diretor de curso, que não deixava ninguém para trás. Em relação a todos os alunos, sendo uns mais espertos que os outros, lidava com todos e sabia levar o melhor de nós para aprendermos e para sermos pessoas melhores, apesar das asneiras que se faziam, ele nunca voltava as costas aos alunos! Hoje em dia, sei que apenas com este curso e a equivalência que este me deu ao 9º ano, se torna difícil candidatar-me a outras profissões para as quais não estou habilitado, pois não tenho o 12º ano. Tenho cada vez mais a certeza de que o aprender não ocupa lugar e tento agora evoluir mais a nível escolar com o processo de RVCC. Concluí o meu Portefólio Reflexivo de Aprendizagens, fechando um capítulo muito importante da minha vida pessoal e profissional, e abrindo outro que a única certeza que traz é que será incerto e tumultuoso. Todavia, creio que durante os últimos meses me equipei com as ferramentas necessárias para o enfrentar confiante, mas com a humildade e dedicação de quem quer sempre saber mais e melhor. O meu principal objetivo, quando iniciei o processo RVCC secundário, era a aquisição de mais qualificações e valorização pessoal para poder estar preparado para uma possível progressão na carreira profissional. Com a atual situação laboral do país, é provável que o aumento das minhas qualificações venha a ter reflexos na carreira. É sempre bom estar preparado para o futuro e para enfrentar novos desafios que possam surgir. Agora, passados… meses após o início desse processo vejo que, afinal, ele é muito mais do que apenas um meio para se conseguir um diploma do 12º ano. De facto, a elaboração do Portefólio Reflexivo de Aprendizagens constituiu para mim um enorme enriquecimento cultural, aliado a um aumento de prática de trabalho com as tecnologias de informação e comunicação. O meu gosto pela escrita estava um pouco adormecido, mas agora foi novamente desperto. Com este processo fui “obrigado” a escrever sobre passagens da minha vida pessoal e profissional, recordando assim vivências e factos passados, alguns muito agradáveis, outros nem tanto, mas todos geradores de aprendizagens. Penso, pois, que a obtenção do 12º ano, através do processo RVCC é o justo reconhecimento da competência e do valor de todas as pessoas que, como eu, não tiveram possibilidades de estudar, devido a dificuldades económicas e que tiveram de ingressar precocemente no mundo do trabalho, fazendo deste a sua “Escola”. Sei que há setores da sociedade que criticam esta forma de conseguir habilitações, esquecendo-se dos enormes conhecimentos que se adquirem no exercício de trabalho efetivo, existindo pessoas com apenas o ensino primário a executar tarefas de grande exigência e responsabilidade e até cargos de chefia, que conseguiram por mérito próprio. Eu, que trabalhei em empresas privadas, tenho pleno conhecimento disso. Não quero falar de falta de tempo para a elaboração do Portefólio, pois apesar de ter uma vida pessoal algo intensa, resolvi o problema abdicando de algumas coisas menos importantes, como ver televisão à noite ou dar alguns passeios aos domingos à tarde, pois foi nestes períodos que fiz a maior parte dos trabalhos, tendo tido a vantagem de ser numa altura que coincidiu com o Outono e Inverno o que, de alguma forma, me deixou mais tempo livre para o efeito. De resto, sou da opinião de que para se conseguir produzir algo positivo na vida é preciso existir força de vontade e também fazer escolhas, pois as coisas não acontecem por acaso nem caem do céu e eu, quando tenho a realização de um trabalho em mãos, vivo com intensidade a sua realização, o que me tem causado alguns dissabores, devido ao grande apego ao mesmo, o que faz com que possa, eventualmente, descurar outras coisas também importantes.
(Concluiu o Ensino Secundário através do processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC))

 

 

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