A propósito de…| Jorge Carreira Alves
Depois dos excessos estivais, de calores desmesurados, secas infindas e imensas privações e angústias que nos atormentam as nossas vidas, eis que surge com todo o seu vigor o outono das imensas e fecundas águas, frescas e revigorantes. Eis que surge o outono das neblinas, das nuvens cinzentas e misteriosas, mas também da promessa de novas vidas renascentes e renovadoras, quando o sol romper e ressurgir com novos e esperançosos brilhos no acalento fecundante e genesíaco no retomar contínuo do ciclo da vida. Eis que surge o outono com toda a sua tristeza, mas com a certeza de novas esperanças, talvez longínquas, talvez incertas pelo caminho tenebroso que ainda se terá de percorrer, contudo, sempre tão reais e constantes no renovar dos ciclos da vida e da sucessão das estações. Este é o outono das melancólicas introspeções dos poetas, dos românticos e impressionistas quadros das paisagens nebulosas, das melodias pensantes e apaziguadoras dos tranquilos adágios sinfónicos. Este é o outono das alegres e recompensadoras lides campesinas de colheitas vindimas e varejos. Este é o outono confraternizante das celebrações partilhadas dos novos vinhos e dos doces sabores que nos trazem aconchegos familiares. Este é o outono das lareiras companheiras e familiares que acendem confortos e afetos. Por tudo isto, apesar dos frios e das grandes chuvas que se anunciam, se toda a natureza se revelar na sua normalidade mais perfeita, eu gosto do outono, porque sei que ele é apenas a antecâmara de um novo renascimento, da revelação de novas e prometedoras alegrias. Que vivam este outono com a mais perfeita felicidade!