Nómada | Izabela Fialho Cândido

Chego à escola e está tudo decorado com as campanhas das listas. Não devo ter mencionado, mas cheguei à escola durante meados de outubro. Os meus pais receberam oferta de última hora para trabalhar na zona norte, e justificaram como “é irrecusável, vai ser o melhor a fazer”. Eu fiquei indiferente, quer dizer, um pouco revoltada, porque já me estava a habituar ao pessoal do centro, mas como os nortenhos dizem:” não adianta um grosso”.
Na sala de aula, identifico, assim que entro, os grupinhos. Capacidade que fui adquirindo ao longo do ano, sendo muito observadora. Mas também não era difícil. Tinha o grupo dos populares, os do desporto, os nerds, e os meio termo…igual em todas as escolas, e esta não era diferente. Eu era neutra quanto a essas classes, saltava de uma em uma, é o que dá quando se vive de forma nómada. Durante a manhã tive filosofia, matemática e inglês, até não foi mau para o 1º dia de aulas. Fui para o bar da escola almoçar – levei esparguete com frango – e enquanto comia, ouvia Taylor Swift, como música de fundo, e lia um romance , para alimentar o meu desejo de viver um. Algumas vezes, observava as pessoas a julgarem outras, alguns rapazes a engatar uma miúdas, outros a jogarem matrecos…
Deu a hora e desloquei-me para a aula de educação física - educação física como última aula, incrível não é? Não.

Fui a pé para casa, desgastada. Durante a tarde não pareceu de todo um 1º dia de aulas. Começámos com futebol, FUTEBOL – eu em vez de dar um pontapé na bola, dou na canela das pessoas…
Chego a casa e é tudo normal. Subo para o meu quarto, tomo banho a ouvir música e vou para o quarto esperar que a minha mãe me chame para jantar.
2 semanas depois…
Estou na hora do almoço e a lista da minha turma – lista V “Voa e Alcança a Tua Coroa” - está com música alta no exterior…Passar as aulas e os intervalos com os fones nos ouvidos faz surgir aquela questão “O que é que ela estará a ouvir?” e, por isso, as pessoas foram conhecendo o meu gosto musical. Tirei os meus headphones pelo menos umas 15 vezes ao longo desta semana para responder a dúvidas desse tipo. Pediram, então, para pôr a minha playlist na rádio, e até foi boa a sensação de ver as pessoas a divertirem-se ao som de “boa música” – nome da minha playlist.
Os meus pais mostram indícios de que esta cidade é de vez para ficarmos e, honestamente, esta foi de longe a minha paragem preferida. Integrei-me bem na turma, contribuí para o entretenimento na escola: solicitaram-me que gerisse a rádio! E as minhas notas até estão aceitáveis. Se os meus pais ousarem sair daqui eu recuso-me… Além disso já vou ter 18 anos, posso muito bem decidir o que fazer da vida. Festejo-os no dia 31 de outubro, sim, no Halloween, o dia mais assustador do ano para o mundo e, decerto que, no dia 31.10.2005, para os meus pais.