Murmúrios fotográficos | Ana Margarida Silva

Nos tempos incertos que todos vivemos ao nível global, coloque-se urgentemente a tónica num elemento essencial: a busca da felicidade. O Professor Doutor Jorge Humberto Dias há muito que se detém sobre o conceito de Felicidade mediante a área de estudo da Filosofia. Urge, efetivamente, uma reflexão em torno deste conceito. Todo o ser humano deseja alcançar a plenitude, vivenciar um estado emocional de fruição benfazeja, percorrer os trilhos da sua existência com sentimentos de bem-estar, prazer, alcançar o sucesso nas várias áreas da sua vida, estar em harmonia com o cosmos que o rodeia. Enfim, alcançar a realização pessoal e a paz. Faz todo o sentido relembrar as doutas palavras de Aristóteles, quando afirma: “A felicidade é o sentido e o propósito da vida, o único objetivo e a finalidade da existência humana”. Um dos grandes projetos de todo o ser humano consiste na edificação de situações que contenham condições passíveis de permear o caminho existencial de deleite e prosperidade. Cabe também à Escola conduzir o aluno, o caminhante, a descobrir o seu cosmo interior, fornecendo-lhe estímulos e afetos, ferramentas e competências para que possa palmilhar um percurso de construção de si eivado de progressão, frutificação, bem-estar, satisfação. No entanto, os tempos conturbados vividos, tais como as guerras e migrações forçadas, pandemia e lutos, dificuldades económicas e violência, desigualdades, constituem fatores incontornáveis no que toca às incertezas e angústias que povoam a mente do ser humano, e que fatalmente concorrem para a negação do direito à Felicidade, enquanto valor inestimável que todos os adultos, jovens e crianças buscam. O período pandémico configura-se como tema fraturante que veio ampliar o desequilíbrio emocional, sendo, desta forma, urgente encontrar dinâmicas capazes de esboroar angústias, restabelecer o bem-estar nos alunos, nas famílias e nos docentes, mercê de um ambiente escolar feliz, onde sejam multiplicados valores e afetos. Sendo a Escola um território tecido de relações humanas, cabe a todos o contributo de alavancar aprendizagens, mas de igual modo propiciar condições para a edificação de um adulto equilibrado, bem-sucedido, com postura ética, motivado para a aquisição de conhecimentos vida fora, capaz de abraçar as singularidades do outro, autónomo e, portanto, feliz. O professor deve, como tal, assumir-se como promotor da Felicidade, conduzindo os alunos a burilarem competências, de modo a serem cidadãos autónomos, responsáveis e bem-sucedidos. Concordando-se com a ideia de que a felicidade é um direito humano fundamental, cabe à escola, à sociedade, às famílias a promoção, em espelho e desde o primeiro momento, de um terreno fértil em bem-estar para que possa ser edificado um projeto de vida no qual o amor seja o ingrediente nuclear: amar o próximo, amar os conhecimentos, amar o trilho percorrido e ser capaz de o alterar quando não consentâneo com o amor, amar o comportamento ético, as virtudes. Se a Escola é a instituição que, me muito concorre para que o indivíduo e a sociedade atinjam o patamar da felicidade, ela não se revela apenas na Escola, mas dá os seus primeiros passos no seio familiar e prossegue vida fora. Como o refere Aristóteles, só no términus da caminhada terrena, cada um poderá lançar um olhar para o que foi a sua existência e avaliá-la em termos de felicidade. Porém, antes do términus, que sejam, amiúde, feitas avaliações e readaptado o trilho, em sã consciência, responsabilidade e liberdade, num processo de autoanálise e de força interior.

Ana Margarida Silva

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