A Propósito de… | Jorge carreira Alves

Quando, em março de 2020, o Governo português deliberou sucessivas interdições e confinamentos, até à imposição do uso de máscaras para garantir a nossa proteção contra o terrível vírus que se havia disseminado por todo o mundo, provocando inúmeras vítimas mortais e um completo entupimento das instituições de saúde, que não tinham forma de debelar uma tão gigantesca procura destes serviços, nesses primeiros momentos de inúmeras incertezas e de imensos medos, houve muita gente que resistiu ao uso compulsivo deste novo e inusual adereço, discutindo-se acaloradamente acerca das suas vantagens e inconvenientes, até havendo muitas hesitações por parte das autoridades e dos especialistas. No entanto, os tempos foram passando, as sucessivas vagas da pandemia foram-se sucedendo e, mesmo os mais céticos entenderam a eficácia deste simples e útil objeto para a proteção de todos, apenas restando, como existem sempre, alguns crentes em absurdas teorias e em lógicas muito pouco lógicas que, quais D. Quixotes contra moinhos de vento, resistiam nas suas petrificadas e imutáveis ideias.

Assim, a máscara entrou no nosso quotidiano e nos nossos hábitos, sendo já um gesto quase automático o colocá-la nas situações que julgávamos mais apropriadas. Entretanto, felizmente, a pandemia foi sendo dominada, o alívio paulatino das restrições foi deliberado e, agora que nos dizem que o uso das máscaras só se justifica em casos muito particulares, subitamente, como se ganhássemos consciência de que estávamos a entrar num mundo novo, estranhamos o não ter colocado aquele objeto a tapar-nos a boca e o nariz, como se, de repente, deixássemos de usar os quotidianos óculos que nos permitem andar na rua sem ir aos tropeções, ou como se nos estivéssemos esquecido do nosso indispensável telemóvel. Para além disso, digam o que disserem, as máscaras até transmitem um certo conforto nos dias de vento e frio deste inverno tardio que vivemos. Isto, para já não pensarmos no que dirão, quando virem que “eu tenho um nariz um pouco disforme”, ou quando observarem que “eu tenho umas borbulhas de acne que me atormentam e que parece que fui atacado/a por varicela”, o que dirão, ao notarem “as minhas abundantes sardas”? o que pensará aquele ou aquela, “que eu ando a namoriscar e com quem tento sempre fazer trabalhos, quando vir realmente como eu sou”? Pelo contrário, “nem vos digo o que senti quando, pela primeira vez, pude ver o rosto da minha stora”! “E aquele stor!!!”. Tantas coisas interditas e incógnitas que estavam por detrás destas máscaras, algumas tão difíceis de assumir ou encarar! Mas o melhor de tudo é que nos estamos a libertar e que, custe o que custar, é sempre muito mais vantajoso olhar os outros cara a cara, com toda a verdade e transparência. E, felizmente, tudo isto significa que estamos, finalmente, a dominar ou a conseguir viver com este maldito vírus que nos transtornou tanto as nossas vidas! Esperemos que outros vírus ou outras maleitas não nos privem de novo da nossa liberdade, do nosso convívio e da nossa lucidez.
Viva a liberdade!

 

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