É PsicoLógico!| Carla Botas

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 30-E/2022, de 21 de abril, que procede à alteração do Decreto-Lei n.º 10-A/2020, o uso de máscara deixou de ser obrigatório a partir do dia 22 de abril, ficando à consideração de cada um de nós poder utilizá-la ou não. Uma liberdade conquistada devido à diminuição da incidência de novos casos de Covid-19, à redução dos internamentos hospitalares e do valor médio do índice de transmissibilidade. E agora que temos esta liberdade, o que fazemos? Dois anos com a obrigatoriedade de usar a máscara e agora que a podemos finalmente tirar parece que não nos sentimos confortáveis. Será que estamos seguros sem máscara? Para muitos, a máscara surge como um escudo que não só os protege contra os vírus, como também os protege dos outros, dando uma sensação de segurança. Com a cara a descoberto ficamos expostos aos vírus e aos outros, a nossa expressão facial denuncia-nos e facilmente percecionam o nosso estado emocional. Será que queremos que os outros nos leiam? Alguns professores e alunos ainda usam as máscaras nas escolas para se protegerem e por se sentirem inseguros com esta medida, não esquecendo que alguns alunos têm complexos relativamente aos problemas de acne e dentários, e com a máscara esses problemas ficam, literalmente, escondidos. No entanto, não é por ficarem escondidos que ficam resolvidos, a autoestima é a pedra basilar da nossa estrutura emocional e quando esta estrutura não é suficientemente forte, há o risco de colapsar. Muitos professores não conhecem os alunos sem máscara e vice-versa. A utilização de máscara altera a nossa perceção dos outros e não conseguindo ver a cara do outro idealizamos as feições da pessoa e a realidade nunca corresponde ao que idealizámos. É preciso tempo para conhecer as expressões faciais de cada pessoa e isso será um processo gradual e não imediato. Estes dois anos de máscara deixaram marcas em todos nós, seja pela dificuldade de percecionar as expressões faciais e a voz, seja pela dificuldade em comunicar e criar conexão emocional com os outros. Pensando nas crianças que ainda estão em desenvolvimento e não têm uma estrutura cognitiva e emocional suficientemente desenvolvida para terem mecanismos de coping (esforços cognitivos e comportamentais executados pelo próprio para lidar com imposições específicas, internas ou externas, percebidas como excedendo os seus recursos), elas fizeram um esforço enorme para se adaptarem à realidade das máscaras e agora é-lhes exigido que façam o processo inverso. De volta à liberdade para mostrar a nossa cara, o nosso sorriso e para respirar sem restrições. Uma liberdade frágil que poderá não ser duradoura, se o bom senso não predominar. É preciso ser equilibrado, avaliar as situações e perceber se estamos expostos a riscos, nesse caso, a máscara é a nossa melhor aliada. Conquistámos esta liberdade no mês em que se comemora o 25 de abril, o dia em que conquistámos, entre muitas outras liberdades, a liberdade de expressão. Nunca nos podemos esquecer que a nossa liberdade termina quando começa a liberdade do outro e que o respeito mútuo é essencial para uma boa convivência.
De que te vais libertar?

 

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