Ipsis Verbis | Mariana Silva

Não há bem que sempre dure, mas haverá mal que nunca acabe?

Se assumirmos como verdadeira a afirmação de Fernando Pessoa, segundo a qual, quando Deus quer e o Homem sonha, a “obra nasce”, então o sonho, matéria importante na construção de um projeto de vida, comanda a vida. É ele que permite manter vivo o desejo e a esperança de um futuro melhor, ajudando-nos a aguentar as adversidades que cada dia nos coloca. Conscientes das dificuldades que estarão no nosso caminho até o atingirmos, ao centrarmos o nosso corpo e alma na concretização do sonho, então tudo valerá a pena, já que a alma não é pequena. A definição de objetivos sólidos e concretos é, portanto, a força motriz da realização dos nossos anseios. Mas de que valerão os sonhos e os projetos de vida, quando a perspetiva de futuro é decadente? Foi no mês transato e já que “a voz do povo é a voz de Deus”, que milhares de cientistas, ativistas e cidadãos comuns saíram à rua, com cartões e palavras de aviso, arsenal visto como perigoso para quem, rodeado das suas 4 paredes cheias de vãs medalhas, governa um país, tentando difundir o diagnóstico: “É agora ou nunca!”. Nada de novo, portanto. Quando a poluição já corre nas veias do efémero humano, porquê modificar políticas, reduzir as emissões de gases com efeito de estufa ou limitar a poluição das indústrias que orgulhosamente gastam num dia o que um indivíduo gasta em 90? Aparentemente, o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 ºC, o degelo do Ártico (retirando o véu a doenças há já muito extintas), a morte dos pobres bichos que, por pouca sorte, se tornaram nossos vizinhos, a ninguém assusta. Porquê ir à escola, se não ouvimos quem foi educado e tenta educar há décadas? Porquê planear um futuro, quando no período de uma década expira o prazo de salvar o que nos sustenta? Não vale a pena designar o país mais possuidor de energia sustentável, quando apenas se transferem projetos de combustíveis fósseis para o continente africano, bloqueando as nações africanas de transitarem para energias renováveis. Não vale a pena limpar as praias, quando o lixo recolhido se torna a areia da criançada do “3º mundo”. Essa abordagem não funciona, apenas transfere o problema para longe da vista, junto dos que pouco ou nada têm para solucioná-lo. Se a palavra sonho, na língua dos nefelibatas (criação de Han-Li – povo que vive nas nuvens), é a mesma que significa vida, então “Eu tenho um sonho”: um futuro habitável.


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