A Minha Voz Conta! |Tomás Casquilha

Cidadãos e a política: interesse ou desinteresse?

O papel que o cidadão desempenha na sociedade é muito importante, se não o mais importante, pois é o conjunto de cidadãos que escolhe o tipo de sociedade em que pretende viver. Numa sociedade liberal, como por exemplo, em Portugal, independentemente da localização no espectro político do Governo, isto é, se o Governo é mais de esquerda ou de direita, existe uma democracia participativa, os cidadãos têm diversas formas de expressão e intervenção. Nas primeiras eleições pós-25 de abril, 1 em cada 4 portugueses era analfabeto, ainda assim, 91% da população portuguesa dirigiu-se às urnas e votou naquelas que foram as primeiras eleições democráticas com sufrágio universal. Ao compararmos o passado com o presente, é notável uma enorme diferença eleitoral, havendo agora cerca de metade da população a abster-se, a não usufruir de um direito tão arduamente conquistado há umas gerações atrás. Mas então, quais os fatores que levam ao desinteresse social da política, sobretudo da população mais jovem? Pode um indivíduo preocupar-se com o seu futuro, quando não se interessa com um assunto que lhe está diretamente ligado e que o afeta? A meu ver, há um grande bloco populacional em Portugal que, de facto, mostra indiferença, desatenção e, por vezes, até desprezo no que toca a assuntos políticos, mas isto não significa que os cidadãos não se interessem pela causa pública. Hoje em dia, os portugueses encaram a política como uma ilusão, um sistema feito para encobrir vários crimes, como a corrupção. A título de exemplo, lembremos José Sócrates, antigo primeiro-ministro e membro do Partido Socialista que foi recentemente acusado de 31 crimes, incluindo branqueamento de capitais, corrupção, falsificação de documentos e fuga ao fisco. Como se não chegasse, destes 31 crimes, apenas foram declarados e a julgamento 6 e as respetivas penas podem vir a ser atenuadas. Isto demonstra outro fator que gera descontentamento aos portugueses, a justiça tardia e defeituosa, onde parece haver um sistema jurídico especial para entidades políticas e de grande nome. Neste caso de Sócrates, a lei poderia já ter resolvido este dilema, mas a sua prática, em mãos desonestas, continua a arrastar o caso desde 2013. Podia falar de muitos outros casos como o do Dr. Paulo Portas ou até de Eduardo Cabrita, que gerou muita polémica recentemente, mas o exemplo de José Sócrates foi um pequeno exemplo que representa um grupo de entidades políticas que mancham o sistema e a democracia em Portugal. Para finalizar este ponto, o que se assiste é a utilização de cargos políticos para interesse pessoal, para satisfazer as necessidades individuais e não para o interesse geral. Há um desacreditar nos políticos por parte dos portugueses, o que leva a julgamentos e generalizações neste ramo. Outro aspeto importante que desassocia a sociedade da política é a sua falta de preparação e incentivo para encarar este assunto com a importância que tem ou que pode vir a ter. Basta pensarmos na população jovem e, no nosso caso, como alunos de secundário, prestes a atingir a maioridade: muitos ainda não sabem distinguir a esquerda da direita, o que cada uma defende ou a localização dos principais partidos no espectro político; no fundo, muitos desconhecem as bases da política. Isto acontece porque nunca foram esclarecidos sobre a política portuguesa e o resultado disso é uma população desinteressada pela política partidária, por exemplo. O que nos leva a outro tópico, os próprios partidos políticos têm dificuldade em captar a atenção dos jovens com as suas campanhas e estratégias de marketing e, consequentemente, dificuldade em exprimir os seus princípios. Portanto, talvez a melhor forma de envolver os cidadãos é ter coragem de os ouvir, perceber e entender que o interesse geral é o certo, mesmo indo contra motivações pessoais. Apesar de tudo, a sociedade mostra preocupar-se com o seu futuro, contrariamente ao que parece uma verdade incontestável: os jovens encontram-se envolvidos na causa pública. Esta causa é muito virada para estilos políticos mais orientados para o ativismo: participação em manifestações e assinaturas de petições públicas. Temos uma sociedade que reage a movimentos/causas temáticas, como o racismo, igualdade de género ou alterações climáticas. Para concluir este breve artigo, a meu ver, o atual estado da democracia em Portugal, tendo em conta escândalos fiscais, justiça contraditória, tachismos etc., faz com que a população portuguesa se afaste da política tradicional e se aproxime do ativismo e da causa pública. Há uma urgência para ultrapassar esta barreira, pois com a existência de falhas na democracia, tende a haver uma ascensão preocupante de partidos extremistas que retiram direitos sem que a população se aperceba. Infelizmente, só quando não os tiverem se irão aperceber da sua importância.

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