A Minha Voz Conta! | Iara Coelho

Desço a rua, cumprimento os meus vizinhos, entro no metropolitano, sorrio para a menina que está na bilheteira e digo-lhe “Bom dia”. Ela, timidamente, responde-me com um “Bom dia” e deseja-me uma viagem tranquila. Entrei no metro, murmurei um sossegado “Bom dia” pelas pessoas com as quais me cruzo, até chegar junto de um dos lugares desocupados. Fiquei a viagem toda a olhar pela janela repensando, uma vez mais, sobre o que tinha que fazer naquele dia. Sem notar, o metro para e apenas me dou conta disso, quando uma desconhecida se levanta para sair. Então, levantei-me e corri para fora do metro a tentar esquivar-me daquela fila de pessoas monótonas que, brevemente, iria formar-se. Já na superfície, parei, ofegante, enquanto olhava à minha volta à procura de um mercado ou de um café. Vejo um pequeno mercado, humilde, mas certamente tinha o que eu desejava. Entrei, cumprimentei uma senhora que estava à entrada, desajeitadamente a arrumar o talão no saco das compras. Ri para a mim mesma ao pensar em quantas vezes também me tinha acontecido tal coisa. Enquanto viajava nos meus pensamentos, cheguei até à prateleira das garrafas de água e pego numa, o que seria suficiente. Caminhei apressadamente até à caixa e voltei a repetir “Bom dia”, o que parecia ser a vigésima vez, para a menina à minha frente. Após o “beep” da garrafa, paguei com um euro, o que eu achei um balúrdio por apenas uma garrafa de água. Saí do mercado e, enquanto caminhava de volta para o metropolitano rumo ao meu próximo destino, pensei sobre o meu dia estar repleto de comunicação e mesmo assim, sentir-me vazia… Eram palavras sem significado e emoção, embora, dependendo da educação de cada um, o “Bom dia” já era automático, avulso, aleatório e não como se realmente nos preocupasse o dia de alguém. Já no metro, concluí o meu pensamento: somos indivíduos e, como tal, individuais. Sinto-me numa sociedade oca, mas... estou habituada.

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