Ipsis Verbis | Mariana Silva

As palavras representam um dos pilares essenciais da comunicação no nosso planeta. A língua, como o refere Eduardo Lourenço, está inserida num ciclo de sistemática e perene criação, destruição e modificação. É nas relações e na comunicação que nos deparamos com o quanto os idiomas permitem que os seres humanos troquem impressões, falem sobre o que os assombra ou o que os diverte e solucionem problemas bélicos ecuménicos. Não há como ignorar: a língua assemelha-se a um camaleão, estando sempre a sofrer mutações. Isto deve-se à facilidade com que o Homem tem de captar tudo quanto esteja à sua volta. Nas viagens, por exemplo, seja a lazer ou a trabalho, deparamo-nos com diferentes línguas, palavras com sentidos nunca ouvidos e com novas culturas. É através deste tipo de experiências que modificamos o nosso vocabulário e, concomitantemente, o léxico da Humanidade. Uma propriedade da modificação que a nossa língua sofre não se dá apenas ao nível fonológico ou semântico, mas também ao nível da expansão dos nossos horizontes, da capacidade de respeitarmos outros povos e culturas e do aumento do nosso intelecto. A História e a evolução tecnológica são duas realidades que contribuem para a constante mudança da língua. O Português é uma das línguas mais faladas no mundo, devido à sua importância, por exemplo, na época dos Descobrimentos, pois que levada pelos marinheiros mundo fora, chegou a locais recônditos, pelo que algumas palavras portuguesas se encontram no vocabulário de povos que vivem em países distantes. O mesmo acontece com palavras estrangeiras, tais como croissant, collants, piano, clip, que adentram com facilidade as nossas vidas, enriquecendo o léxico. A evolução tecnológica permite a criação de novos termos, assim como o vocábulo download, que nos chamam à atenção e que logo acolhemos. Deste modo, a língua, sendo um organismo vivo, está sempre em mutação, pois crescemos e aprendemos com ela. Ela é também o irrefutável combustível das relações sociais, sendo através dela que comunicamos, que expressamos os nossos sentimentos, que sonhamos com assuntos impensáveis ou de difícil cogitação, que encontramos as soluções para problemas que assombram o nosso futuro, sendo também através delas que temos o dever de espalhar a empatia e a paz. Lembremos, pois, Eugénio de Andrade, para quem as palavras são um poderoso veículo de comunicação, sendo relevante cuidarmos do rumo que imprimimos às palavras proferidas, para que não se constituem a nossa punição, mas engrandeçam a nossa trajetória de vida.
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